“LEVANTE” CONTRA AS EXCLUSÕES.

Por Celso Sabadin.

Exclusão racial, exclusão social e violência religiosa. O colecionador de prêmios “Levante” consegue abordar (pelo menos) três destes temas tão importantes, sem cair em lugares comuns, muito menos em lamentações superficiais.

Vibrante, o longa segue a trajetória de Sofía (Ayomi Domenica, ótima), uma adolescente que vê seu sonho de jogar vôlei no exterior ameaçado por uma gravidez indesejada. Além de vitimada pela retrógada legislação brasileira sobre o aborto – que favorece o abismo sócio-econômico vigente nesta questão – Sofía ainda se vê ameaçada pela intolerância religiosa cada vez mais ativa e agressiva neste país.

Com roteiro de María Elena Morán e da própria diretora, Lillah Halla, “Levante” opta por uma muito bem-vinda narrativa sóbria, densa e direta, que consegue obter uma forte identificação junto ao público, abrindo mão de eventuais malabarismos dramatúrgicos que poderiam descolar a obra de sua pungente conexão com o realismo.

Duas competentíssimas interpretações potencializam tal viés: Grace Passô como a treinadora Sol, e Rômulo Braga como o pai de Sofía.

Coproduzido por Brasil, França e Uruguai, o longa chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 22/02, após uma trajetória de sucessos em festivais nacionais e internacionais. “Levante” já atingiu a marca de 20 premiações, incluindo os títulos de Melhor Filme pela crítica internacional – Fipresci – em Cannes, Melhor Filme Ibero-americano em Palm Springs, Melhor Filme em Biarritz, em Montreal (Fierté), no Mix Brasil e no FestCine Aruanda, além de Melhor Direção e Edição no Festival do Rio.

Quem é a diretora

Lillah Halla é uma cineasta brasileira formada em direção e roteiro pela EICTV, Cuba.  Seu curta-metragem MENARCA (BR, 2020) estreou na Semana da Crítica do Festival de Cannes, foi licenciado pela Canal + e MUBI e premiado em festivais de todo o mundo, incluindo Melhor filme no TIFF – Tirana (2021), Toulouse (Prêmio do Público 2021), Kurzfilmtage Winterthur (Prêmio Promoção 2020) e Curta Cinema (Melhor Direção 2020).  LEVANTE é seu primeiro longa-metragem, e participou do laboratório de projetos da Semana da Crítica de Cannes, NEXT STEP.  FLEHMEN (DEU/BR), atualmente em desenvolvimento, é parte de um programa de  residência da Akademie der Künste, em Berlim.

Quem é a atriz protagonista

Ayomi Domenica, 24 anos, é bacharela em Artes Cênicas pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e iniciou seu caminho no teatro aos 9 anos de idade. Em. 2014, começa sua carreira no cinema com o longa-metragem “Na Quebrada”, de Fernando Grostein Andrade, e desde então integrou o elenco de importantes produções audiovisuais brasileiras como “Boa Esperança”, do cantor Emicida, dirigido por Katia Lund e João Wainer; “Dente por Dente”, dirigido por Julio Taubkin e Pedro Arantes; “A Jaula” dirigido por João Wainer; “As Seguidoras”, série da plataforma de streaming Paramount+, “Barba, Cabelo e Bigode” da Netflix, entre tantos outros filmes e séries. Em 2022 passa a integrar o elenco da nova peça da companhia de teatro mais antiga do Brasil em atividade, o Teatro Oficina, “Mutação de Apoteose”. A atriz estreia esse ano como protagonista no longa-metragem LEVANTE (Power Alley), dirigido por Lillah Halla.