“LEVIATÔ, FEITO PARA GANHAR PRÊMIOS.

Por Celso Sabadin.

Muito se reclama a respeito das fórmulas prontas que o cinema comercial norte-americano utiliza e reutiliza para conquistar grandes públicos. É justo. Porém, pouco se reclama das fórmulas prontas que o cinema de arte europeu utiliza e reutiliza para conquistar grandes prêmios. O premiadíssimo filme russo “Leviatã”, pelo menos em meu entender, levanta novamente esta questão.

Não que ele seja um mau filme, pelo contrário, mas saio da sessão com a impressão dele ser uma amálgama de outros ótimos filmes. Um retrato bem costurado de pequenas formulações já bastante revisadas por vários outros mestres europeus e orientais. Temos a ação passada num lugar ermo e remoto, a forte presença das águas e dos mares, o vento, o frio, o filho problemático, a instabilidade da família, o abuso do poder, a injustiça social, os belíssimos planos cinematograficamente horizontais e abertos e, claro, a montagem contemplativa. Não há nada como planos bem longos para conferir a um filme uma chancela de seriedade artística. Fechando tudo, uma jogada de gênio: dar ao filme um título bíblico e mítico que possa ser facilmente compreensível e traduzível para vários festiv… ou melhor, idiomas.

Para o brasileiro, “Leviatã” traz uma dificuldade a mais: seu tema principal, a corrupção política, que pode até ter surpreendido públicos de outros países, é o arroz com feijão do nosso dia-a-dia. E, convenhamos, o que o filme mostra e denuncia chega a ser ingênuo diante da nossa realidade.

Não há dúvida que a direção de Andrey Zvyagintsev é das mais competentes, que a tensão e o suspense são constantes, e que o clima de “Leviatã” é envolvente e magnético. Mas fiquei, sim, com a sensação de ter sido submetido a uma cartilha cinematográfica pontuada de regras e normas feitas para agradar a comissões julgadoras. O que, neste caso, tem funcionado de maneira excelente, pois “Leviatã” ganhou o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes, o Globo de Ouro de produção estrangeira (representando a Rússia), e o Prêmio da Crítica de Melhor Filme na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Vai dizer que ele não é competente?