“LILI”, DE 1953, TEM LANÇAMENTO EM DVD COM ÓTIMA QUALIDADE DE CÓPIA.
A Colecione Clássicos está lançando em DVD o premiado musical “Lili”, produzido em 1953 pela Metro Goldwin Mayer, e dirigido por Charles Walters, o mesmo de “Desfile de Páscoa” e “Alta Sociedade”.
Tudo se passa numa França habilmente reproduzida nos estúdios da Metro. A base da história foi dada pelo conto “The Man Who Hated People”, escrito por Paul Gallico e publicado em 1950 no
The Saturday Evening Post. Gallico também seria o autor do livro que deu origem ao filme “O Destino do Poseidon”.
Basicamente, trata-se de uma bela história de amor que une duas pessoas muito diferentes entre si: uma adolescente ingênua e um homem amargurado. A personagem título, vivida pela francesa Leslie Caron, que havia estrelado no cinema em “Sinfonia de Paris”, é uma solitária órfã de 16 anos (Leslie tinha 19 na época das filmagens) que consegue emprego num circo que percorre a França. Encantada pelo ambiente mágico do lugar, ela rapidamente se apaixona pelo ilusionista Marcus (Jean-Pierre Aumont) sem perceber que ele é apenas um conquistador. Quem realmente cai de amores pela moça é o manipulador de marionetes Paul (Mel Ferrer, lembrando bastante Michael Fassbender), um homem cujo passado doloroso o impede de declarar seu amor.
“Lili” pode não ser tão esplendoroso nem luxuoso como outros famosos musicais da Metro, mas está um passo à frente em termos de roteiro e conteúdo. A personagem principal atravessa aqui um rito de passagem que a transportará de uma ingenuidade quase infantil ao amadurecimento amoroso, ao mesmo tempo em que Paul será obrigado a – literalmente – romper a cortina que o esconde da vida real, para assumir os atos e atitudes que poderão levá-lo a uma nova realidade, igualmente mais madura.
A cena em que Lili canta a imortal canção “Hi Lili, Hi Lo” é um primor de construção, partindo nada mais nada menos de uma tentativa de suicídio, passando pela sedução infantil dos marionetes, e fazendo desabrochar seu talento natural de atriz, que norteará sua vida. Tudo na mesma sequência. Repletos de simbolismos, os quatro bonecos manipulados por Paul são cheios de referências a arquétipos da Psicologia, e tudo isso é passado para a tela com a beleza, a plasticidade e a desenvoltura que um bom musical requer.
Há outras referências mais óbvias, como a do personagem enganador ser um ilusionista, e o manipulador de emoções ser um… manipulador de bonecos, mas tudo isso só torna o jogo mais divertido.
A cópia em DVD é ótima, fiel à profusão estonteante de cores que estava muito em moda na direção de arte e na fotografia do cinema hollywoodiano daquela época. E, felizmente, a distribuidora parece que finalmente conseguiu resolver seu principal problema de lançamentos anteriores: as legendas em português.
Para os fãs de seriados antigos, uma curiosidade: repare no ator austro-húngaro Kurt Kasznar (vivendo Jacquot), 15 anos antes de se tornar o vilão de “Terra de Gigantes”.
Ah, Leslie Caron, atualmente aos 82 anos, continua na ativa, fazendo pequenas aparições em filme e séries de TV.