“LITTLE BOY”, UM DRAMA MEXICANO. LITERALMENTE.

Por Celso Sabadin.

Uma certa sensação de estranheza me acompanhou durante toda a projeção de “Little Boy”, que aqui no Brasil ganhou o dispensável subtítulo de “Além do Impossível”. Tudo no filme soava um pouco exagerado, um pouco “over”, um pouco extrapolado. Do roteiro às cores, sutileza zero.  Ao final da sessão, minha fica caiu: apesar dos atores norte-americanos e britânicos, apesar da trama totalmente estadunidense, apesar do filme ser todo falado em inglês, os créditos que se vêm na tela são em sua maioria esmagadora de nomes latinos. E uma breve pesquisa comprova que o filme é uma coprodução entre México e EUA, escrito e dirigido por talentos mexicanos. Em outras palavras, “Little Boy” é um drama mexicano tanto na sua raiz como na sua essência.

Antes que a chatíssima turma do politicamente correto me chame de preconceituoso contra os mexicanos, vale esclarecer que, além de eu não apoiar Trump, não coloco aqui nenhum juízo de valor no termo “drama mexicano”. Me refiro, sim, a uma estética, a um estilo mexicano de carregar sua produção audiovisual com tintas mais fortes, mais marcadas, menos sutis. Provavelmente um estilo que bebe na fonte da forte produção televisiva do país e até de sua tradição de telenovelas. O fato é que chamar um filme de “drama mexicano” não é, pelo menos a priori, um demérito, mas a qualificação de uma estética muito característica daquele país. E isso fica bem claro em “Little Boy”.

Com roteiro do estreante em cinema Pepe Portillo em parceria com o  diretor Alejandro Monteverde, o filme conta a história de Pepper (Jakob Salvati), um garoto ridicularizado na cidadezinha onde mora por ser bem mais baixo que os meninos de sua idade. Seu único conforto é o apoio incondicional que ele recebe do pai (Michael Rapaport), que acaba se tornando seu único e verdadeiro grande amigo. Porém, a II Guerra leva o pai de Pepper para a frente de batalha na Ásia, e o mundo do menino desmorona. Na tentativa de animar o garoto, o padre local (Tom Wilkinson) tenta lhe convencer que a fé pode tudo.

A presença de nomes interessantes no elenco (Emily Watson, Ben Chaplin, o já citado Tom Wilkinson  e até Kevin James) não consegue esconder o tom exagerado do filme. Há até ideias interessantes e instigantes, como a forte crítica do racismo norte-americano contra os japoneses durante a Guerra, mas tudo acaba se diluindo num viés histriônico que compromete a qualidade e a credibilidade da obra como um todo, que tem na carência de nuances seu maior pecado.

O filme é um lançamento exclusivo da rede de cinemas Cinépolis, também mexicana, e sua estreia no Brasil será 10 de março, antes mesmo que nos EUA.