LIVRO ESMIÚÇA “UMA HOLLYWOOD BRASILEIRA” QUE NÃO É A VERA CRUZ.

Por Celso Sabadin.

Quando se fala em história do Cinema Brasileiro, os primeiros temas que geralmente nos vêm à mente são – digamos – o Cinema Novo, ou a Vera Cruz, ou talvez ainda os filmes da chamada Retomada.

Poucos lembram ou sabem que a nossa produção cinematográfica vivenciou, nas primeiras décadas do século passado, uma fase muito rica, intensa e criativa que se convencionou chamar de Ciclos Regionais do Cinema Brasileiro.

Em um país de dimensões continentais, mas com sistemas de transporte e comunicações dos mais precários, proliferaram nas décadas de 1910 e 1920 pontos isolados de uma produção cinematográfica de qualidade que conseguiam obter alguma repercussão local, mas raramente rompiam suas fronteiras domésticas.

Assim aconteceu em, entre outras localidades, Manaus, Recife, Cataguases, Pelotas… e Campinas. É exatamente sobre o ciclo regional cinematográfico ocorrido na cidade campineira que Carlos Roberto de Souza se debruça em seu livro “Uma Hollywood Brasileira”, lançado pela Alameda Editorial.

A partir do pioneiro longa metragem “João da Mata” (1923), praticamente uma ação entre amigos, adaptado da peça teatral local de mesmo nome; passando por “Alma Gentil”, uma espécie de brincadeira subsidiada pela fortuna de um jovem envolvido por entusiastas de cinema; e desenvolvendo-se pela febre de cinema que envolveu Campinas, o autor estrutura sua narrativa sobre as cinco principais produtoras cinematográficas que atuaram na cidade, naquele período.

“Uma Hollywood Brasileira” traz informações detalhadas sobre os filmes campineiros produzidos no período, suas questões técnicas e formais; a constituição das empresas e os esquemas de financiamento; a exibição e repercussão dos filmes; o pensamento crítico e o debate sobre cinema brasileiro na imprensa.

E mais: uma atrativa introdução contextualiza a cidade de Campinas histórica e socialmente, proporcionando uma melhor compreensão das peculiaridades e das raízes culturais da região.

Tudo em uma linguagem que sabe unir a precisão da pesquisa acadêmica com a agradável fruição de uma leitura direcionada não somente aos cinéfilos e estudiosos, mas para todos os que se interessem pela história e histórias deste Brasilzão improvável que às vezes dá certo.

 

Quem é o autor

CARLOS ROBERTO DE SOUZA é doutor em cinema pela Universidade de São Paulo e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos. Servidor da Cinemateca Brasileira, de 1975 a 2015, ocupou diversos cargos de coordenação e direção. Pesquisador e historiador de cinema no Brasil com ensaios publicados em livros e revistas no país e no exterior.