“LOBISOMEM” DE IVAN CARDOSO SE PERDE NO TEMPO.

Fazia quase 20 anos que o cineasta carioca Ivan Cardoso não lançava um filme. Assim, certamente muita gente não conheçe o seu estilo batizado de “terrir”, mistura de terror com chanchada que fez algum sucesso entre cinéfilos brasileiros nos filmes “O Segredo da Múmia” (1982), “As Sete Vampiras” (1986) e “O Escorpião Escarlate” (1991). Agora, passado todo este tempo, Cardoso retorna com “Um Lobisomem na Amazônia”, comédia rodada em 2005, finalizada em 2006, e que estava até agora em busca de distribuição.

A fórmula é a mesma: uma junção dos antigos filmes de horror da Hammer britânica com as chanchadas da Atlântida, mais uma pitada de Ed Wood e o famoso escracho do humor carioca. Só para dar uma ideia, a trama mostra um grupo de amigos (Danielle Winits, Karina Bacchi, Pedro Neschling, Bruno de Luca, Djin Sganzerla) que se embrenha pela Floresta Amazônica (na verdade, filmada na Tijuca) para tomar uma dose do conhecido alucinógeno Santo Daime. Pelo caminho, eles são obrigados a enfrentar um terrível lobisomem, um enigmático guia turístico (Evandro Mesquita), e um cientista maluco envolvido com guerreiras amazonas.

Fica clara a proposta do filme: divertir e nada mais. Porém, não diverte. Produzida por Diller Trindade, um produtor de resultados discutíveis, mas que costuma caprichar em seus filmes, “Um Lobisomem na Amazônia” perdeu um dos principais elementos marcantes da obra de Ivan Cardoso: a tosqueira. Diller não poderia ter caprichado tanto. O filme ficou tecnicamente bem acabado, visualmente aceitável, o que contraria a base tosca do estilo “terrir”. Além disso, as gags e as situações cômicas não são divertidas o suficiente para provocar o riso, por mais rasteiro que seja.

Nem batizar o delegado sem noção como “Barretão” (alusão ao famoso produtor), nem dar ao cientista norte-americano (vivido por Nuno Leal Maia) um sotaque mais alemão que propriamente americano, nem escalar o famoso Maestro Júlio Medagalia para uma rapidíssima cena de morte, nem brindar o público masculino com alguma nudez de Danielle Winits e Karina Bacchi, nem tudo isso somado, é suficiente para dar alguma graça e bom humor ao filme.

Uma curiosidade fica por conta da participação de Paul Naschy, ator espanhol e ícone de filmes de terror europeus, devidamente legendado, no papel de – vejam só – Dr. Moreau.

Mesmo após o lançamento de “Um Lobisomem na Amazônia”, Ivan Cardoso permanece ainda com um longa inédito no circuito: “A Marca do Terrir”, de 2005, este sim expoente máximo da tosqueira nacional. E que, por isso mesmo, talvez jamais chegue aos nossos cinemas comerciais. Pobre Ivan: se é tosco, não consegue distribuição. Se não é, não tem sua marca registrada…