“LOLA E O MAR”. PORQUE A INTOLERÂNCIA NÃO É UMA OPÇÃO.

Por Celso Sabadin.

Uma determinada cena de “Lola e o Mar” resume bem a importância da discussão sobre a transexualidade: Phillipe (Benoît Magimel), inconformado e inconsolável pai da jovem trans Lola, pergunta se ela tem uma “namorada”. A resposta da garota é um leve sorriso e um abanar negativo de cabeça. Phillipe confessa: “Estou totalmente perdido. O que você é agora? Lésbica? Você é gay. Vai se tornar homossexual? Eu não entendo”. Este é o ponto: muita gente não entende. E outro tanto de muita gente prefere atacar o que não entende a tentar entender. Daí a necessidade da existência de muitos filmes como este bem-vindo “Lola e o Mar”, estreia desta quinta, 14 de abril, nos cinemas brasileiros.

Não que “Lola e o Mar” seja um filme didático, feito para quem “não entende” a questão. Longe disso: terno e afetivo, o longa expõe o tema sem cair em maniqueísmos superficiais, tentando abordar tanto a luta incansável dos transexuais pelos seus direitos de reconhecimento humano e social, como a perplexidade de quem não se vê capaz de sequer buscar informações sobre o assunto. Deixando claro que, como sempre, a ignorância leva à intolerância, e que a intolerância jamais será uma opção.

O eficiente roteiro e a direção sóbria e afetuosa do belga Laurent Micheli conta a história de Lola (a estreante atriz trans Mya Bollaers, ótima), que enquanto busca por dinheiro para realizar sua tão sonhada operação de mudança de sexo, recebe a notícia da morte de sua mãe. Retornar à cidade natal também significará para Lola se (re) confrontar com os preconceitos familiares que ela havia deixado para trás. Agora, porém, sem a intermediação atenuante da mãe.

Sim, há vários elementos dos mais esquemáticos no roteiro (o regresso ao lar, o momento road-movie, o clichê das cinzas fúnebres, o arco dramático redentor, as descobertas, tudo isso e um pouco mais), mas mesmo assim “Lola e o Mar” transpira uma agradável brisa de verdade e autenticidade, que em boa parte deve ser creditada à atuação da protagonista.

Ideal para ser exibido em escolas para provocar o debate e ampliar a informação entre pais, mães, filhos e filhas, “Lola e o Mar” venceu o Prêmio Magritte (o mais importante do cinema belga) de Atriz Revelação, e foi indicado ao César de Melhor Filme Internacional.