“LOS LOBOS”, A DIFÍCIL SIMPLICIDADE DA SOBREVIVÊNCIA.

Por Celso Sabadin.

Abandonar o México, cruzar a fronteira com os EUA, procurar ali algum lugar minimamente digno para morar, e arranjar algum tipo de emprego (ou subemprego). A saga de Lúcia (Martha Reyes Arias, em seu segundo longa) – por si só já difícil de empreender para uma mulher sozinha – torna-se ainda mais heroica quando se tem dois filhos pequenos, de 5 e 8 anos. Este micro núcleo familiar composto por Lúcia e seus garotos Max e Leo (Maximiliano e Leonardo Nájar Márquez, irmãos também na vida real) é o centro narrativo-nervoso-dramatúrgico do ótimo “Los Lobos”, que chega agora nos cinema brasileiros.

Produzido pelo México, “Los Lobos” é a eterna e famosa prova de que “menos é mais”. O enxuto e eficiente roteiro de Luis Briones, Sofía Gómez-Córdova e do diretor Samuel Kishi se centraliza basicamente na visão dos meninos, obrigados a ficar trancados e sozinhos o dia inteiro no pequeno apartamento alugado, pois Lúcia não tem como pagar alguém cuidar deles.

Impossível não lembrar do exasperante “Ninguém Pode Saber”, de Hirokazu Koreeda, e se desesperar só com a lembrança.

“Los Lobos”, contudo, não segue a linha trágica de Koreeda (ufa!), preferindo criar um belo e poético painel sobre a solidão e a incomunicabilidade destas duas crianças que desconhecem o idioma local, e que repentinamente são transportadas contra suas vontades para este ambiente hostil aos imigrantes (e aos refugiados) chamado Estados Unidos. E como incomunicabilidade pouca é bobagem, some-se a este cenário a presença de uma vizinha chinesa. A solução que resta é sonhar com a Disney.

A direção do mexicano Samuel Kishi – também em seu segundo longa ficcional – é sóbria e eficaz, acentuando afetividades, explorando o universo infantil com poesia e sensibilidade, e ainda abrindo espaço para uma breve denúncia social sobre as condições de trabalho de imigrantes e refugiados.

Com destaque para um rápido plano mostrando um minúsculo e insignificante trabalhador passando diante de uma gigantesca bandeira norte-americana posicionada entre opressores corredores de um galpão industrial.  Piscou, perdeu.

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Vencedor de três prêmios no Festival de Berlim, “Los Lobos” estreia nos cinemas nesta quinta, 16 de setembro.