“LOS SILENCIOS”, OS REFUGIADOS DA VIDA.

por Celso Sabadin.

Uma ilha no fim do mundo. Ou talvez mais perto do que pareça: um pedaço de terra situado entre Colômbia, Brasil e Peru, esquecido por Deus, mas lembrado por especuladores. É pra lá que se muda Amparo (Marleyda Soto, ótima), junto com o que resta de sua pequena família, tentando fugir dos conflitos armados colombianos.

Na exuberante paisagem natural que contrasta com a árida realidade social, Amparo busca reconstruir o que perdeu na fuga. Sem dinheiro, negocia com um advogado a indenização a que teria direito pelo desaparecimento do marido guerrilheiro (Enrique Diaz), mas fica sabendo que o dinheiro só poderá ser liberado se o corpo for encontrado. Não há corpo. Não há casa, não há lar, não há mais país para se viver. Uma situação doloridamente irônica para quem se chama Amparo.

Tal trama de luta e desconsolo é dirigida com sobriedade e muita sensibilidade por Beatriz Seigner, neste que é seu segundo longa, após “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano”. O roteiro também é dela. Um roteiro, aliás, nascido de uma intensa pesquisa na qual a cineasta conversou com cerca de 80 famílias colombianas vivendo no Brasil e na região da fronteira. A equipe de filmagem foi comandada majoritariamente por mulheres, e também formada por técnicos e artistas vindos do Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Cuba e França. Sofia Oggioni (Colômbia) assina a (excelente) direção de fotografia, de encher os olhos.

O filme chega ao Brasil já respaldado por uma respeitada carreira internacional. Após estrear na Quinzena dos Realizadores em Cannes, “Los Silencios” venceu o Stockholm Impact Award, no 29ª Festival Internacional de Cinema de Estocolmo, recebeu Menção Honrosa da UNESCO, o prêmio honorário do Festival Internacional de Goa (Índia), Melhor roteiro e o prêmio especial do Júri no Festival de Lima (Peru), o prêmio da Cooperação Espanhola no Festival de San Sebastian (Espanha), Melhor Contribuição Artística do Festival de Havana (Cuba), Melhor Filme de Guerra, no War in Cinema, Grande Prêmio do ICAE (Confederação dos Cinemas de Arte e Ensaio), e do Cine Junior, na França. Participou também de festivais em Israel, Canadá, Noruega, China e Venezuela.

No Brasil, conquistou os prêmios de melhor direção e melhor filme pela crítica da Abraccine no 51º Festival de Brasília, e de melhor roteiro, fotografia e som na Mostra Internacional de Cinema de São Luís.

Coproduzido por Brasil, Colômbia e França, “Los Silencios” estreia nos cinemas brasileiros acontece simultaneamente ao lançamento no circuito comercial da França, Suíça e Alemanha.