“LUA CAMBARÁ”, UM CLÁSSICO BRASILEIRO A SER (RE)DESCOBERTO.

Por Celso Sabadin.

Como sempre me dizia um executivo do antigo mercado de VHS, Roger Divila (onde será que ele anda?), “filme novo é aquele que eu não vi”. Neste sentido, é muito bem vinda a exibição do drama “Lua Cambará – Nas Escadarias do Palácio”, produção brasileira de 2002 que volta agora às telas numa restauração 4K estalando de nova.

O filme é baseado no conto homônimo do escritor cearense radicado em Pernambuco, Ronaldo Correia de Brito, e em roteiro original do mesmo autor, em parceria com o também cearense Assis Lima. O roteiro final é de Rosemberg Cariry.

Ambientada no século 19, a trama se centraliza em Lua Cambará (marcante interpretação de Dira Paes), personagem fortíssima, fruto de um estupro e de todo o peso incomensurável das injustiças e desigualdades sociais brasileiras. Através das voltas que o mundo dá (e que não são poucas, como se constata inclusive nos tempos atuais), Lua tem a oportunidade de engedrar sua vingança contra aqueles que a oprimiram. E o fará com toda a intensidade das próprias mazelas que sempre lhe impuseram. Que também não foram poucas, muito menos brandas.

 

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Além de Dira, o elenco traz também Chico Diaz, Cláudio Jaborandy, W. J. Solha, Tony Silva, Ceronha Pontes, Nelson Xavier, Via Negromonte e Muriel Racine, entre outros. São Intepretações de peso magnificamente emolduradas pela fotografia de Antonio Luiz Mendes (com Petrus Cariry atuando na restauração digital), a direção de arte de Márcio Rodarte, e os figurinos de Albanita Camurça. A trilha musical de Guihlerme Vaz foi premiada no Cine PE. Todo o conjunto brilhantemente orquestrado com a direção sempre inspirada de Rosemberg Cariry.

O resultado é o puro suco de um Brasil profundo que ganha novas cores, novo som e novas cópias para contar e recontar a nossa eterna e triste história de opressores e oprimidos.

 “Lua Cambará – Nas Escadarias do Palácio” será exibido em 4K nesta terça-feira, 28/10, às 18h30, na Sala Grande Otelo da Cinemateca Brasileira, como parte da programação da 49ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 Quem dirige

Rosemberg Cariry nasceu em Farias Brito, no Ceará, em 1953. É diretor, roteirista e produtor que comemora meio século de carreira cinematográfica agora em 2025. Na década de oitenta estreou na direção do longa-metragem “O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto” (1986). Nos anos 90, dirigiu “A Saga do Guerreiro Alumioso” (1993) e “Corisco e Dadá” (1996). Nos anos 2000, realizou cinco longas-metragens, sendo os mais expressivos “Lua Cambará – Nas Escadarias do Palácio” (2002), “Patativa do Assaré – Ave Poesia” (2007) e “Siri-ará” (2008). Dirigiu também “Os Pobres Diabos” (2013) e “Notícias do Fim do Mundo” (2019). Seus filmes participaram de festivais nacionais e internacionais, como os festivais de Gramado, Brasília, Nantes, Toronto, Chicago, conquistando vários prêmios. É formado em Filosofia, com doutorado em Educação Artística pela Universidade do Porto e Universidade de Lisboa. Atualmente faz pós-doutorado na Universidade do Porto.