“LUTA DE CLASSES”: A DIFICULDADE DE SE MANTER COERENTE.

Por Celso Sabadin.
 
Fazia tempo que eu não ria tanto vendo um filme. Não que “Luta de Classes” seja exatamente hilariante, mas fiquei especialmente surpreso e dei muita risada ao perceber, a cada cena, a cada momento, que a dupla de roteiristas Baya Kasmi (que também faz o papel de Mile) e Michel Lecrec (que também dirige o filme) fez um filme, digamos, especialmente para mim e pra minha turma.
 
A história gira em torno de um casal parisiense de convicções humanistas e esquerdistas que tenta se manter minimamente coerente dentro de uma sociedade capitalista sem a menor coerência. O ponto de partida é a mudança para um bairro mais distante do centro, mais coxinha e, consequentemente, de população formada por imigrantes e refugiados. A mudança de bairro implica na mudança da escola dos filhos, que impacta o relacionamento com os amigos, que por sua vez abre margem a uma série de questionamentos sobre as dificuldades de manter os princípios de ética, lógica, bom senso e coerência. Pressões sociais, religiosas, culturais e familiares explodem numa guerra não declarada travada a cada tomada de consciência, a cada ato, a cada posicionamento. Uma luta diária entre o que se pretende ser e o que a sociedade nos empurra goela abaixo. Tudo, porém, conduzido com delicioso sarcasmo pelo diretor Leclerc, o mesmo do também simpático “Os Nomes do Amor”.
 
Destaque para uma professora que, de tão empenhada em manter um discurso sempre politicamente correto, acaba desenvolvendo um vocabulário ininteligível aos seus alunos. Quem não conhece pelo menos um pessoa assim?
 
Saiba mais sobre cinema em www.planetatela.com.br