“LUTA PELA LIBERDADE”. E PELO DOMÍNIO DO MERCADO.
Por Celso Sabadin.
Não houve muito alarde na divulgação da notícia, mas segundo a agência France Press, já faz quatro anos que a China superou os Estados Unidos como o maior mercado cinematográfico do mundo: entre janeiro e março de 2018, os cinemas chineses faturaram US$ 3,17 bilhões, contra US$ 2,8 bilhões dos norte-americanos, no mesmo período, de acordo com números da revista Variety. E mais: cerca de 75% das bilheterias na China foram geradas por filmes domésticos.
Os estadunidenses eram os líderes mundiais deste mercado desde a virada da década de 1900.
Assim, mesmo com a notícia não recebendo a merecida divulgação por parte da mídia (quase sempre de rabo preso com as grandes corporações ocidentais, a quem a informação não interessa), os especialistas em produção, distribuição e exibição cinematográficas andam prestando cada vez mais atenção aos filmes oriundos da China.
Uma boa oportunidade de conferir este trabalho é a estreia de “Luta pela Liberdade”, em cartaz nos cinemas brasileiros a partir deste quinta-feira, 18/08. O filme chega com duas fortes recomendações: a primeira é que se trata do longa escolhido pela China para representar o país no Oscar 2021 de produção estrangeira. E a segunda – e mais importante – é que seu diretor é o premiadíssimo Zhang Yimou, o mesmo de “Herói”, “O Clã das Adagas Voadoras”, “A Maldição da Flor Dourada”, “Tempo de Viver” e “Lanternas Vermelhas”, entre outros.
O roteiro de Yongxian Quan, Yiran Pan e do próprio diretor ambienta a trama nos anos 1930 – época da guerra entre China e Japão – e mostra uma missão especial de espionagem empreendida por quatro agentes especiais do Partido Comunista Chinês, treinados pela então União Soviética. Uma delação, contudo, coloca os agentes em perigo constante e iminente desde o início da missão, desenrolando assim uma intrincada teia de mentiras e dissimulações na qual a verdade só será revelada à custa de muito sangue e traições.
Repleta de minúcias, sutilezas e nomes de personagens distanciados da nossa limitada percepção ocidental, a trama de “Luta pela Liberdade” não é fácil de acompanhar. Qualquer desatenção pode embaralhar o fio da meada.
Por outro lado, o nível de produção é invejável, ostentando muita qualidade em praticamente todos os aspectos técnicos e visuais, como fotografia, direção de arte, reconstituição de época, montagem.
Yimou, como é de seu costume, busca o solene, e não raramente eleva seu filme a um tom próximo dos grandes épicos criminais, buscando referências em obras consagradas como “Era uma Vez na América” ou “O Poderoso Chefão”. Com resultados inevitavelmente irregulares apoiados por uma trilha musical igualmente hesitante.
Mas é inegável a atual qualidade técnica alcançada pelo cinema Chinês contemporâneo, que com certeza ainda irá incomodar bastante os norte-americanos nesta luta incessante pelo mercado.
“Luta pela Liberdade” coleciona cerca de 70 indicações e premiações em eventos internacionais, principalmente asiáticos.

