“LUZ SILENCIOSA” PROPÕE VIAGEM SENSORIAL PELO UNIVERSO DA CULPA
Alguém já tinha ouvido falar na comunidade “Menonita”? Pois bem, esta é uma das maravilhas do cinema: abrir novas janelas, novos horizontes e conhecimentos através da mágica tela de projeção. Particularmente, eu nunca tinha ouvido falar. Assim como jamais havia tomado conhecimento dos “Amish” antes de ver o filme “A Testemunha”, isso lá pelos anos de mil-novecentos-e-Harrison-Ford.
Os Menonitas que vemos no filme “Luz Silenciosa” são seguidores de um movimento religioso radical surgido na Europa, e que se estabeleceram no norte do México. Eles defendem o princípio do pacifismo radical, e rejeitam qualquer tipo de modernidade, como televisão, telefone ou internet. O filme se centraliza no drama de Johan (Cornelio Wall Fehr), um homem casado, pai de família, e que se apaixona perdidamente por outra mulher. Ao trair sua esposa, Johan mergulha numa profunda depressão, causada pelos rigores de sua seita, e coloca em risco não apenas a sua estrutura familiar, como também seu convívio social e até a sanidade mental daqueles que o rodeiam.
A beleza do filme está em sua opção estética narrativa. O diretor e roteirista mexicano Carlos Reygadas (neste seu primeiro trabalho a chegar no circuito comercial brasileiro) faz um mergulho profundo no universo Menonita, como que colocando o espectador neste mundo estranhamente irreal. O tempo é outro. Na ausência da modernidade, o silêncio é sepulcral, os diálogos são poucos, as distâncias são gigantescas e os planos abertos – abertíssimos – nos remetem a um mundo estranho. Em nenhum momento (salvo uma rápida referência na placa de uma camionete) se informa que a ação se passa no México. O dialeto alemão Plautdietsch também contribui para fazer de “Luz Silenciosa” uma experiência quase alienígena.
Isso sem contar que não há atores no filme: todos os personagens são interpretados por moradores reais da comunidade Menonita.
É evidente que neste estilo de trabalho não se deve buscar uma trama convencional, muito menos explicações fácies e racionais para o que se vê na tela. É necessária uma dose de boa vontade para embarcar nesta viagem mística e até esotérica proposta por Reygadas. Quem embarcar será recompensado.
“Luz Silenciosa” já coleciona 20 premiações internacionais, incluindo Havana, Huelva, Fortaleza, Rio de Janeiro e até Cannes, onde ganhou o Prêmio Especial do Júri.

