MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO

Palmas para Zach Helm! Não conhece? Sem problemas. Até bem pouco tempo atrás, o mundo do cinema praticamente desconhecia este autor californiano de pouco mais de 30 anos, com algumas poucas passagens pelo teatro e pela TV. Porém, após sua estréia no cinema – como roteirista de “Mais Estranho que a Ficção” – esta percepção hollywoodiana mudou por completo. Agora, ele já está sendo chamado de o novo Charlie Kaufmann (roteirista de “Adaptação”) e vem ganhando espaço na imprensa especializada. Merecidamente. Este roteiro de estréia de Zach Helm é realmente uma preciosidade, uma jóia rara em meio a tanta mesmice que o cinema americano vem produzindo já há tanto anos.
Tanto o roteiro é genial, que o melhor a fazer é falar o mínimo possível sobre ele. Aliás, fica a dica: quem ainda não viu o filme não deve ler nada a respeito, muito menos assistir ao péssimo trailer do filme, que estraga as melhores situações.
Mas mesmo assim é possível fazer uma sinopse que não tire o prazer do cinéfilo: o fiscal do Imposto de Renda Harold Crick (Will Ferrell, da refilmagem de “A Feiticeira”) é um sujeito extremamente metódico, sistemático e solitário. Por outro lado, a escritora inglesa Key Eiffell (Emma Thompson, ótima como sempre) está sofrendo com um terrível bloqueio criativo que impede já há vários anos seu reencontro com o sucesso literário. Ambos vão se encontrar numa situação, no mínimo, inusitada. E pronto. Melhor não saber nada mais, para curtir as surpresas do filme.
A partir deste encontro inusitado e inesperado, “Mais Estranho que a Ficção” se utiliza de fantasias, simbolismos e parábolas para compor o patético retrato do homem comum, pressionado por limites que muitas vezes só existem dentro de sua própria inércia em viver a vida plenamente. Ou seja, os fatores que cotidianamente nos oprimem e nos limitam são realmente tão fortes assim a ponto de arruinar nossos sonhos? Ou tudo não estaria dentro da nossa própria cabeça? São várias as leituras que o filme proporciona. E além disso também diverte, explorando com bom humor situações que se equilibram na fina linha que divide o trágico e o cômico. Quando o personagem diz não saber se sua vida é uma tragédia ou uma comédia, certamente ele também está se referindo ao próprio filme.
Junte-se a tudo isso a sóbria e criativa direção do alemão Marc Forster (o mesmo do excelente “Em Busca da Terra do Nunca”) e temos, logo de cara, logo em janeiro, um forte candidato a figurar entre os melhores filmes de 2007.