“MAMUTE” TRAZ, COM O PERDÃO DO PLEONASMO, UM ÓTIMO GÉRARD DEPARDIEU.

Enorme, meio bronco, caladão, rude. Assim é Serge (Gérard Depardieu, sempre ele), funcionário de um matadouro de porcos que acaba de se aposentar. Agora, ele poderá curtir o merecido “dolce far niente” após tantos anos de trabalho… ou não. Sua esposa percebe que a papelada para a tão sonhada aposentadoria remunerada não está completa, o que fará com que Serge percorra o interior da França em busca de seus antigos empregadores.

Da mesma forma com que Serge se equilibra em sua velha motocicleta modelo Mammuth, percorrendo as estradas francesas em busca da possível e limitada liberdade econômica que a aposentadoria de um operário poderá render, o filme igualmente se equilibra sobre um bem dosado binômio drama/comédia proposto pela dupla de diretores Gustave de Kervern e Benoit Delépine.

“Mamute” transita entre o insólito e o trivial, entre o bizarro e o irônico. Uma de suas primeiras cenas, a festinha de despedida que Serge ganha do frigorífico do qual se aposenta, é um pequeno primor de riso amargo: seu chefe lê palavras mal ensaiadas, seus colegas ruminam ruidosos salgadinhos, o protagonista brutamontes ostenta uma postura quase animal, e a câmera observa a tudo e a todos num distante plano estático. É um prenúncio do que vem por aí: personagens e situações à beira de uma fábula triste, silêncios perturbadores, grãos de imagem estourados e planos bem construídos que comporão um breve painel do que foi – ou poderia ter sido – a vida e um protagonista que tangencia o patético. Com direito a participação especial da bela Isabelle Adjani, musa inconteste do cinema francês dos anos 80.

Participante da Seleção Oficial do Festival de Berlim, “Mamute” é mais uma boa produção francesa feita com baixo orçamento (uma das produtoras do projeto até leva o nome de “No Money”), ideias instigantes, excelente elenco e muito estilo.