“MANDELA – LUTA PELA LIBERDADE” PECA PELA FALTA DE EMOÇÃO.

O diretor dinamarquês Bille August já foi um dos mais cultuados pela mídia especializada e pelos festivais internacionais, graças aos seus filmes “Pelle, o Conqusitador” e “Jerusalém”. Perdeu depois um pouco de crédito com as adaptações literárias “A Casa dos Espíritos” e “Os Miseráveis”. Agora chega ao circuito brasileiro “Mandela – Luta Pela Liberdade”, que Bille realizou no ano passado. Esperava-se mais.
Afinal, Nelson Mandela, uma das personalidades políticas mais marcantes do século 20, deveria (ou poderia) render um filme igualmente fascinante. Não rendeu.

“Mandela – Luta Pela Liberdade” não pretende ser uma cinebiografia do ex-presidente da África do Sul. A ação se inicia em 1968, quando o líder político, já preso (vivido pelo pouco expressivo Dennis Haysbert, do seriado “24 Horas”), já é uma personalidade idolatrada pelos negros e temido pela minora branca daquele país. O filme transcorre sob o ponto de vista do sargento James Gregory (Joseph Fiennes, de “Lutero”), que assume a direção da penitenciária onde se encontra o famoso detento. A princípio, Gregory é radicalmente racista, considera os negros como animais, e está disposto a qualquer sacrifício para que os brancos não sejam ameaçados no controle político do país. Aos poucos, porém, quanto mais ele toma contato com Mandela, mais começa a rever seus conceitos.

Produzido por uma verdadeira força-tarefa multinacional (que levantou capitais na Alemanha, França, Bélgica, África do Sul, Itália, Luxemburgo e Inglaterra), o filme transcorre dentro de uma narrativa excessivamente tradicional, de um extremo classicismo que acaba sufocando qualquer possibilidade de maiores vôos criativos e/ou emocionais. Sua estética se assemelha à das tradicionais minisséries de televisão, onde o medo de errar é maior que a vontade de criar.

É certo que os valores abordados pelo filme são dignos de registro (a tomada de consciência, a tentativa de reparação do próprio erro, o crescimento humanista, redenção, etc…) mas tudo é retratado de forma tão burocrática que compromete o que uma obra cinematográfica deve ter de mais importante: a emoção.

O roteiro foi escrito a partir do próprio livro de memórias de James Gregory. E ficou frio.