“MANHÃ TRANSFIGURADA” DISCUTE INTOLERÂNCIAS RELIGIOSA E SOCIAL.

Há algo de triste e trágico no drama “Manhã Transfigurada”. E não apenas na tela, como também fora dela. Isto porque seu diretor, Sérgio de Assis Brasil, que realizou as primeiras tomadas em 2002, e só veio a concluir o filme cinco anos depois, faleceu semanas após assistir ao último corte e à pré-mixagem de sua obra, em dezembro de 2007. O trabalho só chega às telas agora, em 2009, provando mais uma vez como é longo e difícil o caminho de boa parte dos cineastas brasileiros.

O filme, em si, também é difícil. Rodado totalmente na cidade gaúcha de Santa Maria, e utilizando quase que inteiramente mão de obra local, o drama narra a história da jovem Camila (a bonita Manuela do Monte), garota do interior que é obrigada pela sua família a se casar com Miguel (João Pedro Gil), um militar rude, porém rico. Mas logo na noite de núpcias Miguel descobre que Camila não era virgem, exigindo então a anulação do casamento. Enquanto a papelada não sai, a garota é então obrigada a ficar trancafiada em casa, apenas na companhia dos serviçais. Uma situação de humilhação e isolamento que terá trágicos desdobramentos.

Baseada no romance homônimo de Luiz Antonio de Assis Brasil, a trama de “Manhã Transfigurada”, em si, não é ruim. Discute a intolerância religiosa do século 19, os falsos moralismos de uma sociedade de mentalidade tacanha, e os limites do amor e da loucura. O gigantesco problema do filme, porém, é a sua realização. De direção profundamente ingênua, ele tem momentos que se assemelham a um teatrinho escolar, com interpretações travadas e direção de fotografia das mais equivocadas, recheada de sombras inexplicáveis. Apesar das belas locações na cidade de Santa Maria, a narrativa, fraca, transborda artificialidade.