“MAR INFINITO”, UMA FICÇÃO CIENTÍFICA PORTUGUESA, COM CERTEZA.

por Celso Sabadin.

A tradicional nostalgia depressivo-lusitana tão presente em tantos filmes produzidos na terra dos nossos históricos colonizadores ganha uma repaginação de gênero a agora invade a ficção científica. Distópica, evidentemente.

Em “Mar Infinito”, vemos uma sociedade urbana esvaziada: em um futuro que não parece muito distante, campanhas publicitárias incentivam a colonização para além do nosso desgastado planeta, e várias naves espaciais transportam para a distante Centauri voluntários que se disponham a começar uma nova vida por ali.

Miguel (Nuno Nolasco) não vai: foi recusado no processo de seleção. Fica por aqui mesmo tentando uma maneira de hackear o sistema e conseguir seu ingresso para o espaço. Enquanto isso, lida com outros espaços: os internos. Perambula pelas ruas vazias, pelo vazio de seu apartamento e – principalmente – pelo seu próprio vazio interior, à procura eterna e filosófica de um significado para alguma coisa. A presença de Eva (Maria Leite) pode significar uma luz neste estranho futuro.

Após mais de 20 filmes e seriados de TV trabalhando com efeitos visuais, Carlos Amaral parte para seu primeiro roteiro e primeira direção em longas-metragens. E o faz com talento e segurança, optando por um estilo intimista e reflexivo onde os tradicionais elementos da ficção científica adquirem valores simbólicos na trama. Prevalece o desconsolo, a imensidão assustadora, a solidão avassaladora do simplesmente existir em um mundo que manda foguetes para outros mundos, mas em que a cafeteira não funciona.

Vencedor do prêmio de público no Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira, “Mar Infinito” está na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em cartaz até 3 de novembro. Saiba mais em https://45.mostra.org