“MARCAS DA VIDA” ABORDA SOLIDÃO DOS TEMPOS VIRTUAIS

Não há dúvida que estamos vivendo uma era virtual, dominada por câmeras, chats e invasão de privacidade. Vários filmes já abordaram o assunto. Mas poucos com a sutileza e o estilo de “Marcas da Vida”. Denso e reflexivo, “Marcas da Vida” – vencedor do prêmio do Júri no Festival de Cannes do ano passado – mostra o solitário e minucioso trabalho de Jackie (Kate Dickie), uma operadora de câmeras de vigilância que monitoram as ruas de uma cidade escocesa. Trabalhando em sintonia com a Polícia, a função de Jackie é avisar as autoridades sempre que perceber alguma atitude suspeita. Tudo segue milimetricamente dentro dos mais tediosos padrões de vigilância, até o dia em que ela monitora o que parece ser um estupro. A impressão rapidamente se desfaz, mas abre para o mundo da vigilante uma porta de seu passado que parecia definitivamente fechada.
A partir daí, a boa direção da inglesa Andrea Arnold (estreando no longa metragem para cinema) convida o espectador a participar da história junto com a protagonista. Ao mesmo tempo, tela e platéia vão descobrindo os elementos que farão o filme gradativamente crescer em tensão, interesse e envolvimento emocional.
“Marcas da Vida” faz parte de um projeto denominado “Advance Party”, uma parceria entre a produtora dinamarquesa Zentropa (de Lars Von Trier) e a escocesa Sigma, que prevê a realização de três filmes ambientados na Escócia, de três diferentes diretores, com a utilização dos mesmos nove personagens. Os outros dois filmes são “Brothers” e “Depois do Casamento”, até o momento inéditos no circuito comercial brasileiro.
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Marcas da Vida (Red Road). Escócia, Dinamarca, 2006. Direção de Andrea Arnold. Com Kate Dickie, Tony Curran, Martin Compston, Natalie Press.