MARCELO GALVÃO MOSTRA AMADURECIMENTO NO SENSÍVEL “A DESPEDIDA”.  

Por Celso Sabadin.

Após ser exibido com boa repercussão no Festival de Gramado do ano retrasado e na Mostra de São Paulo, chegou a vez de “A Despedida”, de Marcelo Galvão, ganhar circuito comercial. Minha relação com a obra de Galvão é um pouco heterodoxa: gosto muito, por exemplo, de “Quarta B”, que quase ninguém gostou, e não suporto “Colegas”, que foi aclamado em vários festivais. Fazer o que, crítico é um bicho meio estranho mesmo…

A cena inicial de “A Despedida” é um primor, mostrando, simples e cruamente, o esforço hercúleo que um homem de idade avançada tem para conseguir fazer aquilo que todos nós fazemos todos os dias, quase sem pensar: levantar da cama pela manhã.  A câmera de Galvão simplesmente abre todo o seu espaço e todo o seu tempo para brindar Nélson Xavier (e o público, claro) com uma das melhores interpretações de sua carreira, na pele de um homem bem mais velho que o ator que o interpreta.

Cada mínimo ato deste personagem, que mais tarde saberemos se chamar Almirante, é por ele mesmo comemorado como uma grande vitória. Aos poucos, saberemos que Almirante tem uma grande motivação para reunir tudo o que resta de suas poucas forças e se embrenhar pelas ruas de São Paulo: se reencontrar com uma, ao mesmo tempo, jovem e antiga amante (Juliana Paes). Normalmente jamais escreveria, num texto meu, a informação que a amante é a motivação do protagonista, pois acredito que seria muito melhor para o público que isso fosse uma surpresa de roteiro. Mas já que a própria sinopse do filme já circulou amplamente pela imprensa com esta informação, não serei eu mais realista que o rei.

É notável o amadurecimento cinematográfico de Galvão demonstrado em “A Despedida”. Em sentido diametralmente oposto a “Colegas”, aqui ele sabe elaborar as sutilezas, dá tempo e espaço à sensibilidade, dirige sem pressa, no ritmo do seu protagonista, aproveita as belas interpretações que lhe são entregues pelo elenco, e mais, utiliza com precisão uma das mais importantes (e mais esquecidas) ferramentas do cinema de qualidade: o silêncio, o tão bem-vindo, importante, fundamental e querido silêncio. O silêncio que valoriza sobremaneira a música que o quebra com paixão e poesia: “Esses Moços”, de Lupicínio Rodrigues.

A estreia é dia 9 de junho.