“MARCOS MEDEIROS – CODINOME VAMPIRO”, TRISTE PAINEL DA CONDIÇÃO BRASILEIRA.

Por Celso Sabadin.

Antes do golpe de estado de 2016, ouvi muita gente questionando sobre o porquê da existência de tantos documentários brasileiros enfocando a ditadura de 1964.  Hoje, com tristeza, percebe-se que não foram feitos documentários suficientes sobre o tema: mesmo alertada, a sociedade brasileira continua caindo na eterna roubada histórica de permitir – com certa passividade – a usurpação da nossa democracia tão frágil.

Assim, reveste-se de uma dolorida contemporaneidade o lançamento de “Marcos Medeiros – Codinome Vampiro”, escrito e dirigido por Vicente Duque Estrada.

Marcos Antonio Costa de Medeiros foi uma das figuras mais icônicas de resistência à ditadura militar dos anos 1960/80. Líder estudantil dos mais destacados, ingressou para a política, foi preso, torturado e exilado, voltou ao Brasil e, mesmo diante da arbitrariedade e da truculência da época, buscava se expressar através das artes. Chegou a filmar com Glauber Rocha e com o francês Chris Marker, e foi um dos pioneiros da produção em vídeo do país.

Não é a trajetória do biografado, porém, o que mais emociona (e perturba) no documentário. A grande força do filme reside no fato dele montar um painel histórico/social/cultural que mostra com todas as letras (e imagens) a eterna vocação brasileira para o subdesenvolvimento. Como diz o próprio Medeiros num de seus trabalhos realizados para a televisão, primeiro foram os portugueses, depois os espanhóis, franceses, holandeses e neo-liberais, em sua fúria exploratória, que chegaram para vilipendiar o Brasil. E o nosso povo, sempre, deitado eternamente.

Tendo Mendonça como fio condutor, o filme é um verdadeiro documento histórico, não apenas político, mas também comportamental e artístico de praticamente meio século desta condição tão difícil e tão inglória que é ser brasileiro.

Ontem, hoje e sempre.