Maria Bethânia

Confesso que não sou fã de Maria Bethânia, e fui ver o documentário Maria Bethânia – Música é Perfume por obrigação profissional. Tinha certeza que não iria gostar do filme, e achei até prematuro que a famosa cantora – que ainda tem muita lenha pra queimar – já fosse terma de um filme sobre sua vida. Felizmente, enganei-me redondamente.
Com talento e sensibilidade, o diretor, roteirista e músico francês Georges Gachot conseguiu captar não apenas o processo criativo/produtivo como também a própria alma da famosa irmã de Caetano Veloso. Na medida em que entremeia belas tomadas externas com sinceros depoimentos de personalidades (Chico Buarque, Nana Caymmi, Caetano), o filme vai lentamente ganhando a atenção e o coração do espectador, que aos poucos fica conhecendo o lado exigente e profissional da cantora. Com ternura. Entre os belos momentos, destaque para os olhos vermelhos de Caetano, que começa a relembrar a mocidade ao lado da irmã, emociona-se, cala-se, e não completa o pensamento com palavras, mas sim com um sorriso. E o humor fica por conta de Gilberto Gil, que aparece em apenas dois momentos e fala dois parágrafos. Ambos totalmente sem sentido, como quase tudo o que Gil fala.
Mesmo trazendo cenas de Santo Amaro da Purificação – cidade natal de Bethânia – e depoimentos de sua mãe, o filme não se propõe a ser uma biografia no sentido tradicional. Antes disso, preocupa-se com a emoção da criação, com a música em seu estado mais puro.
Quem diria. Saí do cinema fã de Bethânia.