“MARIO WALLACE SIMONSEN, ENTRE A MEMÓRIA E A HISTÓRIA”, MAIS ATUAL QUE NUNCA.

Por Celso Sabadin.

Quando se fala nos pioneiros da televisão brasileira, sempre são lembrados os nomes de Assis Chateubriand (Tupi), Paulo Machado de Carvalho (Record), Roberto Marinho (Globo), João Saad (Bandeirantes)… mas por que se fala tão pouco de Mario Wallace Simonsen, da grande TV Excelsior? Aliás, por que se fala tão pouco da própria Excelsior ?
Na verdade, Mario Wallace Simonsen é um nome que a ditadura civil-militar implantada no Brasil em 1964 fez questão de matar, enterrar e esquecer. E o sentido aqui não é apenas o figurado. Felizmente há pesquisadores, historiadores e cineastas dispostos a levantar (mais este) criminoso episódio cometido naqueles anos de triste autoritarismo.
Neste sentido, chega agora às plataformas Now, Vivo Play e Oi Play o documentário “Mario Wallace Simonsen, Entre a Memória e a História”, uma radiografia obrigatória sobre o caso. Roteirizado e dirigido por Ricardo Pinto e Silva, o longa investiga a fundo a trajetória de seu protagonista, mega empresário brasileiro de origem inglesa, que cometeu dois pecados “mortais” (literalmente) neste país: não se alinhar à truculência do poder federal, e tentar quebrar a hegemonia do poder estadunidense na nossa economia.

Com extenso material de arquivo e uma sólida profusão de depoimentos, o filme escancara a sórdida perseguição política de que foi vítima o empresário, após a sua opção de não compactuar com a tomada violenta do poder, em 64.
Dono de uma respeitável fortuna não só herdada de seus ilustres antepassados britânicos (famílias Simonsen e Cochrane), como também construída através de empreendimentos inovadores, Mário Wallace viu seu gigantesco patrimônio derreter em menos de um ano, vitimado por uma série inacreditável de arbitrariedades perpetadas pelos seus perseguidores políticos. Entre elas, uma CPI movida a documentos falsificados, um decreto federal baixado sob encomenda com a finalidade única de derrubá-lo, e a decretação de falência de uma empresa que não devia dinheiro algum para nenhum credor. Tudo, obviamente, sob os aplausos de uma imprensa reacionária que não hesitou em se abrigar confortavelmente sob as asas dos novos donos do poder.

Nesta sequência de derrocadas, o Brasil perdeu, entre outros empreendimentos, a empresa aérea Panair – tida como uma das melhores do mundo em conforto e segurança – e a inovadora e revolucionária TV Excelsior, “que se não fosse a Revolução [sic] seria hoje o que é a Globo”, no dizer do próprio José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, um dos principais diretores da Globo durante décadas.

Engana-se, porém, que pensa que “Mario Wallace Simonsen, Entre a Memória e a História” é um filme sobre o passado do nosso país. Pelo contrário: as falcatruas legais, o autoritarismo sem freios, a conivência criminosa da imprensa, o silêncio cúmplice das elites e da classe média, mais a falta de soberania do Brasil perante as pressões internacionais são elementos cada vez mais presentes contemporaneamente por aqui. E que nos levarão novamente ao fundo do poço social, financeiro e moral do qual levamos muito tempo para sair, se nada for feito.
Imediatamente.