“MARTIN EDEN”, ATEMPORAL.

Por Celso Sabadin.
 
Após as versões de 1914, 1942 e 1979 (além de mais uma anunciada para este ano), o romance “Martin Eden” ganha outra releitura cinematográfica. O livro foi escrito em 1909 pelo norte-americano Jack London, e desta vez foi adaptado pelo roteirista Maurizio Braucci (o mesmo de “Pasolini” e “Gomorra”) com direção de Pietro Marcello, cineasta que construiu sua carreira dirigindo documentários e chega agora ao seu segundo longa ficcional.
 
O personagem título (vivido por Luca Marinelli, melhor ator em Veneza por este filme) é um jovem marinheiro que deseja ser escritor, mas seus poucos recursos financeiros travam seus planos. Até o dia em que ele evita que um rapaz seja agredido por um segurança. Nem o próprio Martin poderia imaginar que o salvamento do rapaz seria sua porta de entrada para o mundo da sociedade burguesa, lugar onde – pelo menos teoricamente – ele teria mais condições para ser bem sucedido na pretendida carreira de escritor. Mas a que custo?
 
É sobre tais dicotomias que o filme se sustenta, questionando valores, investigando comportamentos e tentando derrubar as fortes e invisíveis paredes que apartam as imexíveis classes sociais.
 
Coproduzido por Itália, França e Alemanha, este “Martin Eden” de 2019 subverte propositalmente as convenções temporais. Causa deliberado estranhamento ao utilizar objetos anacrônicos na direção de arte (como Alex Cox fez em “Walker”, por exemplo), ao mesmo tempo em que se utiliza do formato Super 16 mm para obter coloração e texturas que se justapõem às imagens de arquivo que pontuam a narrativa.
 
Sinaliza, assim, que os abismos sociais são eternos e atemporais, motivo pelo qual o livro centenário continua atraindo cineastas de todas as épocas. Impossível discordar.
 
O longa foi o preferido da crítica no Sindacato Nazionale Critici Cinematografici Italiani.