Menina de Ouro

Existe uma discussão infindável, principalmente entre os críticos de cinema, a respeito do grau de “inovação” ou de “mesmice” dos filmes atuais. Obviamente, todos nós gostamos de ir ao cinema e sermos surpreendidos com alguma coisa jamais feita anteriormente. Nem que seja um simples movimento de câmera, um novo efeito especial, uma forma inusitada de abordar algum assunto, coisas do gênero. Porém, contrariando todos aqueles que gostam de reinventar a sétima arte a cada novo filme realizado, o bom e velho Clint Eastwood vem a público e deixa os críticos boquiabertos fazendo o que melhor ele sabe fazer: um estilo cem por cento clássico de direção. À moda antiga, no bom sentido… e profundamente emocionante.
Tudo em Menina de Ouro contribuiria, a princípio, para torcer o nariz da imprensa. Desde o título (bobinho, né?) até a trama: garota que faz de tudo para superar suas dificuldades e ser uma estrela do box feminino. Mas Clint reverte até a pior das expectativas e faz um filme soberbo. Deixa de lado toda e qualquer invencionice, abre mão de firulas cinematográficas, opta totalmente pela sobriedade narrativa e deixa a emoção rolar solta. Apóia-se num elenco impecável, mostra-se novamente um excelente diretor de atores e arranca lágrimas da platéia sem apelar para fórmulas fáceis.
Só não dá para contar muito sobre a história do filme, para não estragar surpresas. Dá, sim, para aplaudir não somente o talento de Clint Eastwood em dirigir com talento e emoção, como também a coragem de todos os produtores que não tiveram medo (sim, esta é a palavra) de levarem às telas um filme que vai na contra-mão da mesmice blockbusteira do momento. Surpreendentemente até, por não se tratar de um produto comercial, Menina de Ouro levou os dois Oscars principais do ano (melhor filme e melhor direção), e mais o de atriz (Hilary Swank) e coadjuvante (Morgan Freeman). E tudo isso com um modesto (para os padrões hollywoodianos) orçamento de US$ 30 milhões.