“MENINOS DE KICHUTE” É RARO FILME BRASILEIRO PARA TODA A FAMÍLIA.

Quem souber o que significa “tudo Magiclick”, Pedro Bó e Sugismundo certamente vai recordar bons momentos no terno e simpático “Meninos de Kichute”, filme que aproveita o favorável clima futebolístico atual para finalmente ganhar seu espaço no cada vez mais acirrado mercado exibidor brasileiro.

Com a simplicidade e a doçura de um “Menino Maluquinho”, “Meninos de Kichute” narra despretensiosamente a história de um garoto interiorano que sonha ser goleiro. Filho de pai fanático religioso, o menino precisa se desdobrar para, ao mesmo tempo, cumprir seus deveres escolares, treinar seu querido futebol e ainda “driblar” as excentricidades do autoritário pai.
Com direção de Luca Amberg, “Meninos de Kichute” é um raro exemplo de filme ambientado nos anos 70, mas que passa ao largo dos problemas políticos da época, eximindo-se de adentrar por temas como torturas e prisões. Alienação? De forma alguma. O filme simplesmente retrata uma parcela da população – bastante grande, por sinal – que sequer tinha conhecimento das atrocidades cometidas pelo regime militar daquele período, tamanha era a censura aos meios de comunicação. As citações ao militarismo são feitas apenas tangencialmente, quer pela professora ensinando Educação Moral e Cívica, quer pela trilha sonora salpicada por canções ufanistas típicas daquele momento.
Baseado no livro homônimo de Márcio Américo, o roteiro opta por se centrar nos pequenos dramas familiares contemporâneos, misturando com equilíbrio momentos de comédia, aventura e drama.
Com exceção da rápida presença de um Chevette modelo 78 num filme que se passa em 74 e 75, “Meninos de Kichute” traz uma boa e afetiva reconstituição de época, onde os sóbrios figurinos de Joana Gatis não cometem um erro dos mais comuns em qualquer tipo de cinema, seja ele brasileiro ou estrangeiro: o de chamar mais a atenção que a própria trama. A trilha sonora sabe como inserir, em momentos-chave, músicas das mais representativas do período enfocado, não hesitando em misturar, com ótimos resultados, estilos tão diversos como Secos & Molhados, Os Incríveis e Lindomar Castilho.

A direção também consegue extrair interpretações convincentes e uniformes de todo o seu elenco, que inclui Vivianne Pasmanter, Werner Schünemann, Arlete Salles, Paulo César Pereio, Mario Bortolotto e o garoto Lucas Alexandre no papel principal. O elenco infantil, sempre uma pedra no sapato de muitos filmes, também se sai muito bem.
O resultado é um filme que tem na ternura de sua simplicidade sua maior qualidade, e que pode ser assistido prazerosamente por toda a família. Não por acaso, foi o vencedor do prêmio de melhor filme brasileiro pelo júri popular na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.