Mensageiras da Luz – Parteiras da Amazônia

É interessante a trajetória do cineasta Evaldo Mocarzel. Depois de atuar vários anos como jornalista da área cultural, ele se lançou no mercado como documentarista, e acabou se transformando numa espécie de “papa-prêmios” de festivais de cinema. Tanto em curtas como em longas metragens. Um de seus trabalhos mais famosos – À Margem da Imagem – já foi exibido em variados cortes, e acabou sendo exibido como curta, média e também longa-metragem.
Ativo, agitado e eternamente entusiasmado, Mocarzel produz compulsivamente. Um de seus trabalhos mais recentes consegue agora espaço no circuito comercial: “Mensageiras da Luz – Parteiras da Amazônia”, filme que retrata o trabalho amador, artesanal e milenar de um grupo de parteiras no interior do estado do Amapá. A primeira questão que vem à cabeça é “por que documentar as parteiras do Amapá?” Uma dúvida que logo se dissipa quando o cineasta consegue passar para a tela um clima de empatia e cumplicidade que ele desenvolve junto às suas entrevistadas. Em poucos minutos o público fica absorvido por aquele mundo estranho, belamente primitivo e distante, tão diferente da nossa realidade urbana repleta de maternidades – sem trocadilho – de última geração.
São depoimentos humildes, emocionados e emocionantes de mulheres da mais extrema simplicidade que realizam o mais divino dos atos: dar um ser humano à luz. Vida e morte convivem. Há espaço também para digressões culturais, como na cena que marca o encontro de duas parteiras índias mestiças que já abandonaram a própria língua – o caripuna – e que se reconhecem foneticamente trocando entre si palavras de sonoridade francesa. Fruto de antigas tradições coloniais de uma época em que ainda não existia a palavra globalização.
O cinema de Mocarzel é assim: não se atém muito a regras rígidas. Pode falar de nascimento e morte num minuto para abordar colonização francesa logo depois. Ele viaja e faz viajar. Da mesma forma que não se furta em utilizar sua própria experiência pessoal (e de sua esposa) para registrar em filme o parto da própria filha. Afinal, lembrando o nome daquele famoso festival de documentários, “é tudo verdade”.