“MESMO SE NADA DER CERTO” É CONFORMISTA AO FALAR DE REBELDIA.

Depois do sonolento “Apenas uma Vez”, o diretor e roteirista John Carney apresenta um romance bem mais interessante e envolvente: “Mesmo se Nada Der Certo”. Ambientado nos bastidores da indústria fonográfica, o filme se apoia em dois personagens (e atores) bastante carismáticos para tecer críticas contra o politicamente correto e contra todo o desgastante processo de monetarização e mercantilização da obra musical.

Dan (Mark Ruffalo) é um produtor musical à moda antiga, que ainda acredita na poesia e na qualidade das canções. Não por acaso, ele está falido, decadente, e em conflito constante com seus associados, que só visam o lucro. Dan não pretence a esta época.
Entre uma cerveja e outra, certa noite ele entra num pequeno bar que toca música ao vivo e se encanta com o talento de Greta (Keira Knightley), uma jovem britânica, deprimida pelo rompimento com o namorado, que naquele momento se apresenta no tal barzinho munida apenas de um banquinho e um violão. Após algumas idas e vindas, os dois decidem graver um disco independente, na contra-mão de tudo o que a indústria fonográfica vem fazendo.

Claro que é sempre bastante prazeroso acompanhar a trajetória de dois outsiders que lutam contra o sistema. Há sempre um ar quixotesco neste tipo de filme cuidadosamente pensado para fazer com que as plateias saiam do cinema leves e felizes. Esta parece ser a proposta básica de “Mesmo se Nada Der Certo”. A boa notícia é que funciona. Mesmo porque todas as formulações daquilo se espera de uma boa comédia romantic estão ali, desde a escolha do elenco aos diálogos saborosos, às charmosas locações externas novaiorquinas e aconchegantes ambientações internas E, claro, à música.

Divertido é perceber que, para fazer um filme que vai contra o sistema, o diretor se utiliza das mais comportadas ferramentas cinematográficas usadas pelo próprio sistema na busca pelo sucesso. Um filme que se situa na zona de conforto para pregar o inconformismo. Pode não sere coerente, mas deu certo: “Mesmo se Nada Der Certo” é uma diversão sem compromisso sintonizada com a leveza de um certo cinema independente que busca seu público tentando mesclar inconformismo com concessões.

Para dar maior credibilidade ao roqueiro Dave, o ex-namorado de Greta, a produção contratou para o papel o vocalista Adam Levine, da banda norte-americana Maroon 5. Que se sai bem nesta sua estréia no longa metragem.