“MEU NOME É DANIEL”, A AUTORREFERÊNCIA COMO LINGUAGEM.

Por Celso Sabadin.
 
Há uma grande tendência no audiovisual que praticamente já está se transformando num subgênero dentro do gênero documentário: a autorreferência documental, ou seja, fazer um filme sobre alguém da própria família ou, eventualmente, sobre si mesmo.
 
A proposta pode render registros dos mais interessantes ou aborrecidos, dependendo, claro, do personagem a ser enfocado. No caso de “Meu Nome é Daniel”, tal autorreferencialidade (que já vem embutida no próprio nome do longa) é das mais bem-vindas. O título se refere a Daniel Gonçalves, cineasta carioca de 35 anos que decidiu fazer um documentário para investigar qual seria, afinal, o seu próprio problema: o diretor/roteirista/personagem nasceu com uma deficiência que remete a uma suposta paralisia cerebral, mas que não foi até o momento confirmada clinicamente. Com capacidade plena de raciocínio e expressão, Daniel não controla os movimentos do próprio corpo, o que levou à suspeição de um provável problema neurológico muscular, tampouco comprovado. Restou a Daniel exorcizar suas dúvidas e inquietações através do cinema. Para isso, ele contou com um apoio inestimável: as inúmeras gravações em VHS feitas por sua família durante toda a sua infância e adolescência. Algumas por prescrição médica; outras como registros afetivo-familiares. Com tanto material de arquivo à disposição, o documentarista conseguiu traçar um amplo, emotivo e atrativo painel sobre sua própria condição, sem arroubos de egocentrismo e com um ótimo domínio da técnica narrativa. Ou autonarrativa.
 
Antes de retratar a si mesmo em filme, Daniel dirigiu os documentários “Tem bala aí?” (2008), “Luz Guia” (2012), “Como Seria?” (2014) e “Pela Estrada Afora” (2015). Também codirigiu e editou o curta “Cine Rolândia” (2014), e foi roteirista e editor dos curtas “Os Olhos das Ruas” e “Ouvir Com o Coração”. “Meu Nome é Daniel” é seu primeiro longa.
“Meu nome é Daniel” já passou por 12 festivais nacionais e internacionais em países como Alemanha, Austrália e Holanda e recebeu diversos prêmios como Menção Honrosa Direção de Documentário no Festival do Rio 2018, Melhor longa-metragem na Mostra de Cinema de Gostoso (2018), Melhor longa-metragem pelo Júri popular na Mostra de Cinema de Tiradentes 2019 e o prêmio “Documental Calificado a los Premios Oscar de la Academia” do Festival Internacional de Cine de Cartagena de Índias 2019 que qualificou o filme para concorrer ao Oscar de filme documentário 2020.