“MEU NOME É JACQUE” É RETRATO DIGNO E PUNGENTE DA TRANSEXUALIDADE.

Por Celso Sabadin.

Sentimentalismos fáceis, simplificações e bandeiras políticas rasteiras costumam ser problemas bastante recorrentes nos filmes que tratam de transexualidade e a Aids. Felizmente, “Meu Nome é Jacque” não cai em nenhuma destas armadilhas dramatúrgicas. Se tivéssemos de traduzir o documentário em uma única palavra, ela seria “Dignidade”.

Estreando na direção de longas, Ângela Zoe – produtora de “Betinho – a Esperança Equilibrista” – acerta em cheio no tom que imprimiu ao seu filme. Soube perceber que tinha em mãos um material riquíssimo proporcionado pelo próprio objeto documentado (no caso a impressionante história de vida de Jacqueline Rocha Côrtes) e sua família. Assim, optou por um número de entrevistas menor que a média, conseguindo desta forma extrair impressões mais profundas de seus depoentes. O resultado empolga e emociona.

Jacqueline, ou Jacque, é uma transexual que se descobre mulher ainda criança, cresce e sofre com este estigma, assume definitivamente sua feminilidade através de intervenções cirúrgicas, descobre-se soropositiva, engaja-se no ativismo de movimentos sociais, chegando até a Organização das Nações Unidas. Tudo isso enquanto desempenha com garra e determinação seus papéis de irmã, esposa e mãe. E que quer ser avó. É uma personagem de uma personalidade que explode na vida e na tela. Magnética, exuberante, extrovertida, sincera, de coração aberto, que as lentes de Zoé souberam captar com intensidade.

Ao contextualizar a trajetória de Jacque pontuando-a com a de sua família, o filme assume uma dimensão humana de rara felicidade, principalmente através da figura de um de seus irmãos, que jorra emoção e sensibilidade cada vez que relembra dos episódios de amor, dúvidas e cumplicidade que o envolveram com a irmã.

“Meu Nome é Jacque” permanecerá em cartaz no Cine Odeon, no Rio de Janeiro, de 21 a 27 de abril, terá sessões promocionais em outras capitais brasileiras, e estreará na Globo News em maio.