“MEU PAÍS” É UM DOS GRANDES FILMES BRASILEIROS DO ANO.

Um introspectivo e delicado drama familiar filmado de forma igualmente introspectiva e delicada. Assim e Meu País, estreia do cineasta André Ristum na direção ficcional de longas.

O roteiro trabalha sobre a dicotomia de dois irmãos de comportamento antagônico: Marcos (Rodrigo Santoro), o mais velho, é um executivo bem sucedido que leva uma vida luxuosa na Itália. Já Tiago (Cauã Reymond) é um mauricinho irresponsável que vive do dinheiro acumulado pelo pai (Paulo José, em pequena porém marcante participação), em São Paulo.

É exatamente a morte deste pai-provedor que desestrutura a falsa, frágil e aparente estabilidade familiar. Forçados ao reencontro, estes dois irmãos de nomes bíblicos se vêem diante de problemas e encruzilhadas de vida que os obrigarão finalmente a encarar inevitáveis conflitos eternamente adiados.

Ainda que o tema grite, tudo em Meu País é contido e elegante. Ristum consegue passar para o filme o sentimento de grito preso na garganta que permeia a trajetória do protagonista Marcos. São emoções represadas, um choro eterno que se recusa a sair. Sempre próxima dos atores, a câmera busca cumplicidade com a platéia, perscruta o íntimo silencioso de cada um.

O elenco, completado por uma ótima Débora Falabella em papel difícil, entrega interpretações marcantes e críveis. Tudo emoldurado por uma bela fotografia em tons esmaecidos e grãos ampliados que sublinham o momento árido de uma situação na qual brilhar não é possível.

Ó único senão talvez seja apenas o título – Meu País – de boa força dramatúrgica, mas perigoso mercadologicamente. O público, invariavelmente desavisado, talvez não seja atraído por ele, e acabará assim por perder uma belíssima obra. Tomara que não.