“MEU QUERIDO FILHO”: MAIS TRAÇOS DE NEOCOLONIALISMO  NO CINEMA FRANCO-BELGA.

Por Celso Sabadin.

Faz algum tempo que ando bem ressabiado com algumas coproduções cinematográficas realizadas entre a França e países de cultura muçulmana. Já tive a oportunidade de escrever anteriormente sobre isso (quando comentei as estreias de “Clash” e “Degradé”), e o lançamento agora de “Meu Querido Filho” me acendeu novamente a questão.

Cada vez tenho mais tenho a percepção de que o cinema francês vive uma onda de neocolonialismo, através da qual produtores e diretores de grande talento artístico realizam filmes de qualidade para tentar vender uma (evidentemente falsa) mensagem de superioridade da cultura ocidental sobre a islâmica. E o que é pior: contando para isso com a suposta validação de talentos (diretores, roteiristas) de ascendência muçulmana.

“Meu Querido Filho” se passa em Túnis, capital da Tunísia, onde Riadh (Mohamed Dhrif) e Nazil (Mouna Mejri) dedicam toda a atenção e o carinho possíveis para o filho Sami (Zakaria Ben Ayyed), um jovem de poucas palavras que sofre de constantes enxaquecas. Não fosse pelas crises de Sami, tudo transcorreria da maneira mais convencional, natural e ocidental possíveis neste pequeno núcleo familiar. Até o momento em que o rapaz desaparece, e o filme começa a sinalizar que ele teria debandado para o lado “obscuro/terrorista” da Força. Leia-se Islã. Tudo é muito sutil, mas me parece clara a intenção da obra em contrapor as supostas segurança, amor, compreensão e dedicação da família tradicional, ocidentalmente estruturada, à igualmente suposta ingratidão muda deste jovem movido e motivado por forças de origens discutíveis, destruidoras e desagregadoras.

Ainda que subliminarmente, “Meu Querido Filho” parece propor vigorosamente uma espécie de “desperdício de vida” causado por quem opta pelos seus ideais radicais. Radical aqui no bom sentido da palavra: raiz. E flertando, assim, com um forte viés conservador.

Coproduzidos pelos badalados irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne (conhecidíssimos papa-prêmios de festivais internacionais) e dirigido pelo tunisiano Mohamed Ben Attia (de “A Amante”), “Meu Querido Filho” foi realizado por produtoras da França, Bélgica, Qatar e Tunísia. Para ver de olhos e percepções bem abertos.