“MINHA VIDA NA ALEMANHA DE HITLER” ANTECIPA O NAZISMO BOLSONARISTA.

Por Celso Sabadin.
 
A tentativa de implantação de técnicas e táticas nazistas no Brasil, empreendida pelo atual governo, faz crescer ainda mais o interesse por todo e qualquer material histórico que explique – ou tente explicar – como Adolf Hitler obteve sucesso em sua loucura totalitária que levou o mundo à Segunda Guerra Mundial.
Assim, é mais do que adequada e bem-vinda a estreia do documentário francês “Minha Vida na Alemanha de Hitler”, de Jérôme Prieur, nesta sexta-feira (21/06), às 23 horas, no Canal Curta.
 
A gênese do filme é uma pesquisa da Universidade de Harvard que coletou 20 mil depoimentos de pessoas que conseguiram sair da Alemanha entre 1933 (ano em que Hitler assume a chancelaria alemã) e 1938, antes de eclodir a Segunda Guerra, ao perceberem os perigosos caminhos pelos quais a sociedade e a política estavam enveredando. Entre estes milhares de depoimentos escritos, a produção selecionou 43, a grande maioria de judeus, mas também dando vozes a alguns protestantes, católicos, ou simplesmente a pessoas que se opunham ao nazismo, sem religião declarada. O resultado é impressionante! É claramente perceptível como as ações de marketing do governo Bolsonaro se inspiram no Nazismo da época. A disseminação do ódio contra comunistas, as acusações absurdas e unilaterais de que bolcheviques e judeus seriam os grandes responsáveis pela derrota na Alemanha na I Guerra, as fake news, as tentativas de associação da figura de Hitler como sendo “enviado de Deus”, a filiação ao partido situacionista como garantia de emprego, está tudo lá, na Alemanha combalida e ludibriada.
 
Um dos depoimentos atesta, textualmente, que “a melhor maneira de atrair o público, com preguiça de se informar, era a luta contra o bolchevismo”. Outro cita o momento como “hipnose em massa”. E assim sucessivamente durante dois episódios de 52 minutos cada dos quais não se consegue desgrudar os olhos.
 
O material iconográfico que ilustra os textos/depoimentos são igualmente de uma preciosidade histórica gigantesca. São imagens captadas entre 1933 e 1938 onde se vêm cenas de rua, o cotidiano alemão, as campanhas político-publicitárias dos candidatos à Chancelaria, o crescimento assustador da presença da suástica, os mais variados tipos de desfiles de rua destinados a endeusar o nazismo, os sorrisos que muito brevemente seriam substituídos por lágrimas. No segundo episódio, destaque para as filmagens coloridas, novidades na época.
 
“Minha Vida na Alemanha de Hitler” é um documentário obrigatório não apenas para quem se interessa por História, como também para quem se preocupa com os atuais rumos do nosso país.