“MISSÃO 115”: IMPUNIDADE E DITADURA QUE JAMAIS ACABAM.

Por Celso Sabadin.

Um soco no estômago. A expressão é clichê, mas foi a melhor que eu encontrei para descrever a sensação que tive ao assistir “Missão 115”. O longa documenta o largamente difundido (na época) caso Riocentro, uma operação desastrada da ditadura que fez com que uma bomba, a princípio destinada a destruir o palco de um show musical, acabasse explodindo nas mãos dos próprios militares que a armavam, matando um deles.

O ato seria de uma covardia e de uma atrocidade impensáveis: o show de 1º de maio de 1981 reunia grandes astros da Música Popular Brasileira, e era um movimento de resistência contra a ditadura que, embora cambaleante, ainda persistia no Brasil. O lugar estava lotado por 18 mil pessoas, jovens em sua maioria. E a estratégia dos militares era colocar a bomba no palco, detoná-la, causar pânico e terror, para logo em seguida colocar a culpa na “esquerda terrorista”, jogando a opinião pública contra os “comunistas”, dando assim mais poder ainda para os ditadores, que naquele momento estavam com os ânimos arrefecidos.

Nada disso é novidade. A questão de “Missão 115” não é exatamente um atentado que deu errado quase 40 anos atrás, mas sim o que ele significa hoje: impunidade total. Ninguém foi punido pela tentativa de matar milhares de jovens e de desestabilizar todo um país. O próprio colega que estava ao lado do militar que morreu com a explosão mais tarde tornou-se professor. E é de virar o estômago acompanhar o depoimento do agente Claudio Guerra – um dos responsáveis pela operação, hoje devidamente “convertido e arrependido” – contando detalhes do plano assassino com a naturalidade e a tranquilidade de quem fala de um passeio na praia.

“Missão 115” se utiliza deste infame caso Riocentro não apenas para desnudar com força, talento e competência a doença crônica da impunidade brasileira, mas também para questionar a Lei da Anistia e o trabalho da recente Comissão Nacional da Verdade.

A direção e roteiro são de Silvio Da-Rin, que com “Missão 115” retoma o sempre importante tema da ditadura brasileira, depois do também ótimo “Hércules 56”, de 2006.