MONARQUISTA, “VENCER OU MORRER” QUESTIONA A IGUALDADE.  

Por Celso Sabadin.

Talvez eu esteja dando uma de Ubaldo, o Paranoico (imortal personagem criado por Henfil), mas fiquei bem ressabiado (ainda existe essa palavra?) ao assistir “Vencer ou Morrer”, que estreou nesta quinta, 05/06, nos cinemas brasileiros.

Trata-se de uma reconstituição (romanceada, claro, pois é cinema) do episódio histórico que ficou conhecido como Guerra da Vendéia (França, 1793 a 1795), sobre um grupo de civis que enfrentou o exército republicano por não aceitar os princípios da Revolução Francesa.

Liderados pelo ex-oficial da Marinha François-Athanase Charette de la Contrie (interpretado por um pouco carismático Hugo Becker), os contrarrevolucionários se constituíram num obstinado exército civil de resistência à recém proclamada República, ocasionando milhares de mortos pela região.

“Vencer ou Morrer” tem defeitos e qualidades. Entre as qualidades, destaca-se o bom nível de produção e os quesitos técnicos envolvendo fotografia, direção de arte e montagem. Entre os defeitos, incomoda um descomedido maniqueísmo que retrata os revoltosos como heróis ilibados e os soldados republicanos como assassinos desalmados.

Em suma, um filme mediano que não levantaria maiores debates, não fosse o “detalhe” que me deixou ressabiado: a quem interessaria, em pleno 2022 (ano de lançamento do longa no exterior), retratar com didatismo e exacerbado heroísmo um grupo que prega fanaticamente a restauração da monarquia e o catolicismo? A quem interessaria dar palco e brilho a uma milícia que despreza com todo vigor os conceitos de igualdade, liberdade e fraternidade?

Tentando responder a estas perguntas, vejo na internet que “Vencer ou Morrer” é o primeiro longa produzido pelo empresário Nicolas de Villiers, nome artístico de Nicolas Louis Pierre Marie Le Jolis de Villiers de Saintignon. Em entrevistas, ele se posiciona politicamente como “neutro”.

Trata-se também do primeiro longa dirigido por Vincent Mottez,  responsável pela série da TV “Secrets d’Histoire”, acusado por parte da crítica francesa de privilegiar a monarquia em detrimento da república.

Ficou mais claro para o Ubaldo aqui os motivos pelos quais em algumas cenas “Vencer ou Morrer” me lembrou trechos de produções da TV Record ou do Brasil Paralelo.