“MONEYBOYS”, ENTRE O ELEGANTE E O CONTEMPLATIVO.

Por Celso Sabadin.

Essa história de ser crítico de cinema é mesmo muito interessante. Se eu fosse fazer a crítica de “Moneyboys” há alguns anos, provavelmente eu citaria que o filme aborda a questão da prostituição masculina potencializada por uma sociedade preconceituosa como a de Taiwan.

Contudo, os fatos que abalaram o Brasil de 2018 para cá, escancarando o profundo grau de tosqueira humana que se ocultava nos esgotos do nosso país (que, confesso, eu desconhecia), joga uma nova luz (ou uma nova escuridão) sobre o tema: quem sou eu para achar que Taiwan – ou qualquer outro ponto deste nosso atrasado planetinha – seja menos progressista que aqui?

Enfim, coproduzido por Áustria, França, Bélgica e Taiwan, “Moneyboys” é universal, ao mesmo tempo em que se mostra contemporâneo e atemporal, ao abordar, nos dias de hoje, temas milenares.

Vindo de uma pequena vila interiorana chinesa, o jovem Fei (Kai Ko) tenta ganhar a vida na capital de Taiwan, Taipei, trabalhando como garoto de programa. O razoável padrão social que consegue atingir – atraindo as atenções inclusive outros rapazes de sua aldeia – pode até ludibriar quem só vê o lado de fora da profissão. Internamente, porém, Fei é uma pessoa atormentada, amargurado pela não aceitação de sua família, e distanciado do que seria um amor verdadeiro.

O roteiro e a direção são do chinês, Yilin Bo Che – que artisticamente assina C.B. Yi – estreando no longa-metragem de maneira bastante promissora. Além de ser selecionado para a Mostra Un Certain Regard, em Cannes, “Moneyboys” obteve mais de 20 indicações e premiações em festivais internacionais, destacadamente nos de temática LGBTQIA+.

Há uma certa elegância na direção de Yi, que pode eventualmente ser confundida com lentidão em excesso. Realmente, a linha que separa estas percepções são bastante tênues. Se, por um lado, em várias ocasiões o filme parece que “patina sem sair do lugar”, no dizer popular, por outro lado a riqueza dos enquadramentos brinda nosso olhar com uma intensa e vibrante variação de cores e detalhes.

C.B. Yi afirma que uma de suas referências preferidas é o  taiwanês Hou Hsiao Hsien. “Eu tive a infância mais livre que eu poderia querer, e gosto de olhar para trás com nostalgia. Nos primeiros filmes desse diretor, eu encontro lugares e traços do passado (…)  O filme lida com um problema muito específico, a migração de um jovem da China rural, mas para mim é uma história universal sobre relacionamentos interpessoais que poderiam acontecer em muitos lugares ao redor do mundo”.

A estreia nos cinemas brasileiros é nesta quinta-feira, 8 de fevereiro.