“MORCEGO NEGRO” MOSTRA QUE O ROTEIRISTA DO BRASIL É MUITO REPETITIVO.

Por Celso Sabadin.

Ao contrário do que o nome possa sugerir, Morcego Negro não é um super-herói. Pelo contrário: é um super vilão. Um super corrupto causador de prejuízos inestimáveis para a sociedade. Um personagem bastante conhecido nos mais diferentes momentos históricos da vida brasileira. E que, infelizmente, não é fictício.

O Morcego Negro ao qual se refere o título do documentário roteirizado e dirigido por Chaim Litewski e Cleisson Vidal é Paulo César Farias, nome que todo brasileiro com mais de 40 anos certamente se lembra. Conhecido como PC Farias, ele foi o tesoureiro de Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito democraticamente pelo voto direto e popular após a ditadura de 64, e também o primeiro a ser rapidamente impichado, em função do mar de lama que seu governo – também rapidamente – se tornou.

Farias era o grande pivô do escândalo, e é sobre ele que o documentário se debruça. Com requintes de jornalismo investigativo, Litewski e Vidal recordam através de imagens de arquivo os acontecimentos reais de um quebra-cabeças de horror que nem o mais imaginativo dos roteiristas ficcionais poderia criar.

Naquela virada da década de 1980, o Brasil passaria por um novelão latino inacreditável, envolvendo a ascensão de um clã de políticos alagoanos ao poder federal, a transformação do Palácio do Planalto em bancada de favorecimentos, e o descarado confisco dos saldos em poupança da população brasileira. Tudo devidamente incensado pela grande mídia, que preferiu apoiar descaradamente uma candidatura sabidamente fraca, a ter que lidar com o eterno fantasma do “comunismo” que nunca existiu por aqui.

Como não poderia deixar de ser, tudo desandou muito rapidamente. O que não se previa, porém, era a dimensão da sordidez dos fatos que se sucederam, envolvendo traições entre irmãos, denúncias de ex-mulheres, e a culminante cena grotesca de PC Farias e sua namorada da época ensanguentados em seu leito de morte. Com gigantesco estardalhaço midiático, claro.

“Morcego Negro” relata toda esta saga macabra em pouco mais de 130 minutos de projeção. Parece muito? Não é. São tantos – e tão improváveis – os desdobramentos que o tempo do filme passa voando.

Ao final – e isso não é spoiler – a triste constatação que, no fundo, nada mudou por aqui. “Os corruptores continuam exatamente os mesmos”, como bem lembra um dos depoentes do documentário. Como também é dito no filme os empresários corruptores do governo Collor só entraram pesadamente “apoiando” sua candidatura depois que a Globo também entrou. E esta roda infame não para de girar.

O mais irônico de tudo é que “Morcego Negro” é um longa que tem entre seus apoiadores a própria Globo, via Globo News, exatamente um dos canais informativos que mais incute em seus incautos espectadores o tal “medo do comunismo”, que justificará todas as atrocidades em nome dele cometidas.

Realmente, o roteirista do Brasil é muito ruim.