MOSTRA SP: A BUSCA ÍNTIMA DE “ENTRE MORTES”.

Por Celso Sabadin.

Após matar um rapaz durante uma briga, Davud foge com sua moto, serpenteando pelas montanhas do Azerbaijão. Pelo caminho, vai deixando um rastro de mortes, embora nenhuma delas seja provocada por ele próprio. De alguma forma que transita entre o simbólico, o trágico e o onírico, Davud torna-se inadvertidamente um libertador de mulheres reprimidas por seus maridos e famílias.

Selecionado para a mostra competitiva do Festival de Veneza, “Entre Mortes” é um road movie intimista e existencialista sobre um jovem à procura de si mesmo e de uma História que ele ainda não viveu. Segundo longa ficcional do roteirista e diretor Hilal Baydarov – de carreira mais intensa no documentário – o filme apoia-se na linguagem poética para traçar um panorama crítico em relação à condição feminina em seu país.

O roteiro estranhamente sustenta o hábito de ratificar verbalmente, por duas ou até mais vezes, o que já foi verificado previamente pelas imagens, o que pode indicar uma tentativa de convencimento pela redundância, ou simplesmente uma insegurança diretiva. Ou nada disso. O fato é que tais pleonasmos narrativos são compensados pelas imagens belíssimas captadas pelo interior do Azerbaijão. Neblinas místicas, montanhas imponentes, finas cortinas de chuvas e uma impactante paleta de cores da natureza são potencializadas por enquadramentos nunca menos que preciosos.

Coproduzido por Azerbaijão, México e Estados Unidos, “Entre Mortes” faz parte da programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que pode ser acompanhada em 44.mostra.org