MOSTRA SP: A INVISIBILIDADE LATINA EM “A SANTA DO IMPOSSÍVEL”.

Por Celso Sabadin.

Não se deixe iludir pelo título supostamente religioso: se existe algo de sagrado no filme “A Santa do Impossível” não é nenhuma entidade santificada, mas sim a luta humana pela sobrevivência de imigrantes/refugiados no solo norte-americano dominado (pelo menos até o momento) pelo diabólico pensamento trumpista.

Selecionado para a repescagem da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, “A Santa do Impossível” mostra uma pequena família peruana tentando sobreviver com dignidade na cosmopolita Nova York. Rafaella (Magaly Solier, de “A Teta Assustada” e “Madeinusa”) se vira como pode trabalhando como  garçonete, e seus filhos adolescentes Paul e Tito (Adriano e Marcello Durand) fazem entregas em suas bicicletas. Enquanto os rapazes se encantam com a beleza da também refugiada Kristin (vivida pela croata Tara Thaller), Rafaella se deixa seduzir pelo pensamento capitalista/empreendedor do aventureiro Edwald (Simon Käser) que acredita que “tudo é possível, basta acreditar”. Pensamento muito mais plausível para quem, como ele, tem cabelos loiros e olhos azuis.

Longa de estreia do diretor suíço Marc Raymond Wilkins, “A Santa do Impossível” – de produção também suíça – opta por uma narrativa bem menos chorosa e vitimista que o tema poderia sugerir. Pelo contrário, aposta no suspense tangenciando o drama criminal, ao mesmo tempo em que aborda, sem cair nos clichês convencionais, a invisibilidade latina e os abismos culturais. Com eventuais pitadas de bom humor.

Uma interessante surpresa desta repescagem da Mostra, disponível até 8 de novembro na plataforma Mostra Play. O aluguel sai por R$6.