“MOTOQUEIRO FANTASMA” É DIVERSÃO MOLEQUE PRA QUEM NUNCA PERDEU A MOLECAGEM
Ao contrário de Super Homem, Batman ou outros heróis mais “populares”, contar a história e as origens do Motoqueiro Fantasma não é tarefa das mais lineares. O nome original, “Ghost Rider”, criado e utilizado pela Marvel, na realidade nasceu numa história em quadrinhos ambientada no Velho Oeste, e somente mais tarde passou a designar o motociclista endemoniado que tantos fãs cativou e cativa pelo mundo. Mesmo porque o termo “rider”, em inglês, cabe tanto para quem anda a cavalo como para quem utiliza a moto. Também não há apenas um único “Ghost Rider” no universo Marvel: o personagem passou por várias fases e releituras, transformando-se praticamente em sinônimo de anti-herói.
“Motoqueiro Fantasma”, o filme, enfoca o personagem Johnny Blaze, criação dos roteiristas Roy Thomas e Gary Friedrich e do desenhista Mike Ploog. Publicado pela primeira vez em agosto de 1972, Blaze é um jovem motociclista que faz exibições em feiras e circos, junto com Barton, seu pai, que está com câncer. Certo dia, ele é procurado por ninguém menos que o próprio Diabo, que lhe propõe um trato: ele curaria Barton, e em troca Johnny passaria a trabalhar para as forças do Mal, como uma espécie de “cobrador” de outros pactos demoníacos. O acordo é firmado, mas logo Johnny é traído pelo Diabo. Enfurecido, ele se recusa a cumprir sua parte no trato, passando assim a ser vítima de uma terrível maldição que o transforma num ser maligno, um esqueleto flamejante e amaldiçoado, atormentado pelo ódio e pela sede de vingança. E isso é só o começo.
O projeto de transformar a história em filme foi bastante atribulado. Especulava-se muito a respeito de quem seria o ator ideal para viver o papel título, ao mesmo tempo que Nicolas Cage, fã do personagem desde muito jovem (ele até tem uma tatuagem do Motoqueiro) fazia lobby para conseguir o trabalho. Finalmente, Cage foi o escolhido, e muitos fãs protestaram. Também não foram poucos os que torceram o nariz quando o roteiro e a direção do filme ficaram a cargo de Mark Steven Johnson, praticamente um estreante na direção (ele só havia realizado “Pequeno Milagre” e “Demolidor”) e razoavelmente conhecido apenas pelos roteiros de “Dois Velhos Rabugentos” e “Elektra”.
Outro problema aconteceu em relação ao cronograma: Johnson pediu mais tempo para trabalhar, e “Motoqueiro Fantasma”, inicialmente previsto para 2006, só estreou agora em 2007. Uma estréia, aliás, repleta de boas surpresas. Não apenas o filme faturou mais de US$ 50 milhões logo no seu primeiro final de semana, como também ele se revelou uma delícia de ser assistido. Mesmo para quem desconhecia os quadrinhos o que é, aliás, o meu caso.
“Motoqueiro Fantasma” tem tudo o que se espera de uma adaptação cinematográfica de um herói dos quadrinhos. Um personagem principal sólido e carismático, ação, efeitos especiais de primeira linha, um roteiro intrigante que não ofende a inteligência de ninguém, lutas espetaculares, demônios, fantasmas, e muito bom humor. Sim, porque nada mais cansativo do que filme de super herói que tenta se levar a sério.
Outro ponto positivo é a construção do Motoqueiro em si, um personagem que foge da bi-polaridade simplista do Bem e do Mal, realçando densidades mais tênues e atrativas. Estão presente também algumas características típicas da mitologia dos heróis dos gibis, como a namorada, repórter, que passa a investigar a identidade secreta do próprio objeto do seu amor (remember Lois Lane), e – claro – o eternamente recorrente tema da “segunda chance” e da redenção proporcionada àqueles que erram.
Talvez “Motoqueiro Fantasma” seja, em demasia, aquilo que chamamos de “filme de menino”, ou seja, aquele tipo de aventura repleta de violência e fantasia que o publico masculino gosta muito mais que o feminino. Impossível não vibrar, por exemplo, na cavalgada noturna que leva o herói ao cemitério onde acontecerá o desfecho final. Talvez. Mas esta característica é levemente atenuada por uma sub-trama romântica encabeçada por uma personagem feminina forte, Roxanne, vivida por Eva Mendes. Ou seja, os garotos podem levar suas namoradas ao cinema, porque elas também deverão curtir o filme. Ou pelo menos parte dele.
Já para os “moleques”, ou para quem nunca perdeu a “molecagem”, “Motoqueiro Fantasma” é programa obrigatório, daqueles de fazer qualquer fã de aventuras virar criança de matinê outra vez.
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Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider). EUA, 2007. Direção e roteiro de Mark Steven Johnson. Com Nicolas Cage, Eva Mendes, Peter Fonda, Wes Bentley, Sam Elliott.