“MULHERES DO SÉCULO 20”: O FIM DO SONHO.

Por Celso Sabadin.

Tudo acontece numa grande casa na California, um lugar bonito que remete a um passado de glórias, mas que no momento passa por uma reforma que parece não ter fim. E este “momento” é 1979. É ali que Jamie, de 15 anos; sua mãe Dorothea, de 55; a amiga de Jamie, Julie, um pouco mais velha que ele, mas ainda menor de idade; Abbie, inquilina de Dorothea; e William, responsável pela tal reforma que jamais termina, vivem uma história tão simples quanto emocionante. Todos eles, cada um a seu modo, tentam viver, sobreviver, amar e ser felizes neste confuso ocaso dos anos 70. E logo se percebe que não é apenas o casarão que serve de cenário ao filme que está passando por transformações e transições.

Dorothea tenta entender o que o filho vê exatamente de tão interessante no nascente movimento Punk. Jamie tenta entender a solidão de sua mãe. E as duas garotas, a pedido de Dorothea, tentam fazer Jamie entender um pouco mais da vida. Mas como, se elas também não entendem muito bem o que está acontecendo?

Na verdade, ninguém entende. Poucos percebem e ninguém poderia prever que, iniciada a década de 80 que se aproxima, o mundo nunca mais seria o mesmo. Os ideais humanistas e libertários dos anos 60 e 70 estão dando seus últimos suspiros, abrindo espaço à truculência, ao belicismo e  ao terrível neoliberalismo que virá pelas mãos de Reagan, transformando o planeta num imenso supermercado sem sentimentos.

O filme é comandado pela perplexidade das mudanças da época. Fala-se muito do feminismo, de uma suposta paz que nunca chega, das transformações sociais. E Dorothea é sempre vista como a mulher forte que cresceu na época da Crise de 29, o que assume proporções maiores no idioma inglês, que batizou este período de “A Grande Depressão”. Ou uma época na qual as pessoas eram de verdade, no dizer do personagem Jamie.

“Mulheres do Século 20” caminha o tempo todo por um limite estreito, uma tênue fronteira de transformações, assim como o limite da década que está se acabando e trará um mundo tristemente novo, sem a possibilidade de volta dos antigos sonhos e revoluções. Em determinada cena, todos se reúnem diante da TV para acompanhar um discurso do então Presidente Carter que se tornaria histórico. Uma fala sobre a crise de confiança, algo do tipo “o que está acontecendo com todos nós?”.

A direção sóbria e segura é de Mike Mills (de “Toda Forma de Amor”), também autor do roteiro. Por sinal, seu primeiro roteiro original a ser filmado. O filme estreou no último 30 de março.