“MUNDOS QUE SE CHOCAM” É RISO GARANTIDO. MESMO SEM SER COMÉDIA.

Por Celso Sabadin.

Me identifico muito com uma frase – cujo autor desconheço – que diz que “quem só gosta de filme bom não gosta de cinema”. Assistir a filmes ruins é libertador, desopilador, inspirador e – principalmente muito divertido. Por isso fiquei muito feliz quando vi que estava disponível gratuitamente no YouTube um clássico da tosqueira chamado “Mundos que se Chocam”.

Simplesmente adoro filmes de ficção científica dos anos 1940 e 50. Não só os ótimos (como “O Dia em que a Terra Parou”, só para citar um exemplo) como também aqueles de baixíssimo orçamento feitos a toque de caixa por minúsculos estúdios independentes, num momento em que os drive-ins, concorrendo com a recém-chegada televisão, provocavam uma demanda muito grande de filmes direcionados para o público jovem. Um público, diga-se, muito mais preocupado com o banco de trás de seus carrões que propriamente com o que passava na tela. “Mundos que se Chocam”, de 1954.

Peter Graves (antes de ser o astro do seriado “Missão Impossível” e muito, muito antes de “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu”) é Doug Martin, piloto (!) da força aérea dos Estados Unidos que participa de um teste de lançamento de uma bomba atômica. Sim, em 1954 só se falava disso. Mas algo dá errado, seu avião cai e Doug é dado como morto. Inexplicavelmente, pouco depois, ele aparece cambaleante na base aérea, sem nenhum ferimento, mas com uma cicatriz de uma operação no peito.

Não é preciso ter muita experiência na área para saber que o piloto foi abduzido por alienígenas. Também não é preciso ter muita criatividade para escrever esta história de extra-terrestres que precisam dominar nosso planeta porque o deles tem um sol que está se apagando. Nada disso tem muita importância. Divertida mesma é a caracterização dos invasores, que usam uma espécie de malha de lã que lhes cobre o corpo inteiro, e olhos falsos feitos com embalagem pintada de ovos, segundo confessou o maquiador Harry Thomas em uma entrevista. Isso sem falar num poderoso aparelho multiuso dos alienígenas, claramente uma luminária adaptada.

Risível também é uma quase interminável sequência em que o herói – ao tentar fugir do covil em que foi preso – se depara com uma infinidade de animais “gigantes” ampliados em back-projection, incluindo lagartixas, um grilo, uma barata, lagartos, aranhas, etc…

Felizmente o autor da história, Myles Wilder, soube mais tarde canalizar sua veia cômica para o bem, transformando-se num dos roteiristas do clássico e divertidíssimo seriado “Agente 86”.

A direção é de W. Lee Wilder, também produtor de filmes baixo orçamento, que no ano anterior havia dirigido “Fantasmas do Espaço”. Leia aqui a crítica: http://www.planetatela.com.br/critica/fantasma-do-espaco-mistura-ficcao-cientifica-com-o-homem-invisivel/