“NA FRENTE HÁ LUGAR”, A ESTREIA PRÉ NEORREALISTA DE ALDO FABRIZI.

Por Celso Sabadin.

Ao mesmo tempo cômico, emotivo e dramático, “Na Frente Há Lugar” marca a estreia de Aldo Fabrizi (mais conhecido como o padre de “Roma Cidade Aberta”) como argumentista, roteirista e ator. Comédia romântica de grande apelo popular, o longa reuniu um time de escritores dos mais talentosos, incluindo o próprio Fabrizi, Piero Tellini, um jovem (22 anos) Federico Fellini, e Cesare Zavattini, nomes que marcariam a história do cinema italiano.

Fabrizi – no primeiro dos mais de 80 filmes em que atuaria nos próximos 40 anos – interpreta Cesare, um cobrador de ônibus de bom coração que se apaixona platonicamente por Rosella (Adriana Benetti), uma passageira que tem seu dinheiro roubado dentro do coletivo. A garota, porém, se apaixona por Andrea (Bruno Bellini), motorista do mesmo ônibus e grande amigo de Cesare, o que provoca um jogo cômico/dramático de interesses românticos.

Os primeiros 10 minutos de “Na Frente Há Lugar” são antológicos, criando um fiel retrato do caótico, exagerado, divertidíssimo e quase histérico jeito italiano de ser. Tudo dentro de um ônibus lotado no qual o cobrador grita constantemente o título original do filme: “Avanti c´é Posto…”, aqui traduzido como “Na Frente Há Lugar”, mas que caberia melhor como “um passinho à frente”.

Passado o impacto hiperativo da introdução, a narrativa se aquieta, optando por transitar entre o romântico e o dramático, sem contudo abrir mão do humor, que permanece como função do personagem Cesare, magnificamente interpretado por Fabrizi.

Produzido em 1942 – logo, em plena Segunda Guerra – pela tradicionalíssima Società Italiana Cines – o longa não é tecnicamente reconhecido como parte da escola Neorrealista que dominaria o cenário italiano a partir de 1945, embora o próprio Roberto Rosselini, um dos principais mentores do movimento, o tenha apontado como um dos antecessores deste estilo.

De fato, “Na Frente Há Lugar” dá alguns passos na direção do Neorrealismo que surgiria, proporcionando algumas cenas ao sabor do improviso das ruas, e tangenciando – ainda que levemente – o tema do desemprego. Mas basicamente ainda segue a estrutura do cinema de estúdio que passaria a ser questionada no pós guerra. O longa também funcionava como um escapismo momentâneo à caótica situação política e econômica da Itália naquele período de privações.

A direção é de Mario Bonnard, que se iniciou no cinema como ator, roteirista e diretor ainda na fase silenciosa, e que dirigiria mais de 80 filmes numa longa carreira que se entenderia até os anos 1960.