“NA PRÓXIMA, ACERTO NO CORAÇÃO” TRAZ CRUELDADE PERTURBADORA.

Por Celso Sabadin

Com o inquietante título “Na Próxima, Acerto no Coração”, o novo trabalho de Cédric Anger (roteirista também de “O Homem que Elas Amavam Demais”) teria tudo para ser “apenas mais um filme sobre serial killer”. Não é. Mesmo exibindo todo o ritual típico do gênero, “Na Próxima, Acerto no Coração” é mais envolvente e mais perturbador que seus congêneres. Provavelmente porque o filme se exime totalmente dos penduricalhos – tanto visuais quanto psicológicos – que costumam compor o universo dos assassinos em série cinematográficos. Nada de traumas do passado, nada de santuários repletos de recortes de jornais e sangue, nem de cenas construídas minuciosamente para assustar. Pelo contrário: a direção sóbria e segura de Anger nos traz um assassino quase cru, que mata seca e objetivamente, e por isso mesmo exala uma crueldade naturalmente animal, com poucos resquícios de ser humano. Um verdadeiro psicopata.

Grande parte desta chocante crueldade deve ser creditada ao excelente trabalho do ator Guillaume Canet, que constrói seu personagem de maneira simples e natural, como se fosse um vizinho qualquer, ou mesmo o policial da esquina. O que o torna ainda mais assustador: com ele, o perigo literalmente mora ao lado.

A partir do livro “Un Assassin Au-Dessus de Tout Soupçon”, de Yvan Stefanovitch, que por sua vez relata acontecimentos reais acontecidos no final dos anos 70, “Na Próxima, Acerto no Coração” recebeu duas indicações ao Cèsar (ator e roteiro adaptado), e vai ser melhor apreciado por quem prefere um horror psicológico à mesmice aventureira.