NÃO DEIXEM O BONINHO VER “YALDA”.

Por Celso Sabadin.

Os letreiros iniciais de “Yalda” – estreia nos cinemas desta quinta, 09/12 –  já avisam: a história é ficcional, mas o reality show no qual ela se desenvolve é real. E obviamente a gente acredita, porque quem já viu reality show brasileiro – ou mesmo aqueles programas-barraco que passam no período da tarde – não duvida mais de nada.

Yalda não é o nome da personagem principal, como se poderia supor, mas sim uma data da cultura persa que celebra a vitória das luzes sobre as trevas e – por isso mesmo – comemorada na noite mais longa do ano. A palavra significa “Renascimento”. Estamos precisando muito de uma Yalda no Brasil.

É neste clima de simbólico festejo milenar que um reality show iraniano – e isso é verdade – se aproveita das tradições para montar seu show de horrores: colocar frente a frente uma pessoa condenada pela justiça implorando perdão a quem a condenou. Pela lei iraniana, se o perdão for concedido, o condenado será perdoado. E o circo televisivo se apropria do sagrado para montar seu espetáculo macabro.

A parte ficcional da trama fala de Maryam (Sadaf Asgari), uma  jovem acusada e condenada à morte pelo suposto assassinato de seu marido. Só quem podem salvá-la é Mona (Behnaz Jafari), filha do primeiro casamento do falecido, mas para isso ela terá de perdoar a acusada, “ao vivo e a cores”, como se dizia antigamente. Enquanto isso, o público se manifesta pelo telefone, obviamente sem o menor poder de decisão.

Não deixem o Boninho ver este filme, que ele poderá ter ideias junto ao STF para desenvolver um novo show.

Coproduzido por França, Irã, Alemanha, Suíça, Luxemburgo e Líbano, “Yalda” é o segundo longa ficcional do roteirista e diretor  Massoud Bakhshi, e o primeiro a chegar ao Brasil. O longa ganhou o Grande Prêmio do Júri na categoria drama do Festival Sundance.