“NÃO MEXA COM ELA” ABORDA COM VIGOR O ASSÉDIO SEXUAL NO TRABALHO.

Por Celso Sabadin.

Direta ou simbolicamente, “Não Mexa com Ela” é um retrato dos mais significativos sobre a atual condição feminina na sociedade em geral e no mercado de trabalho em particular. Na ficção, o filme fala de uma mulher que assume o papel de chefe de família e é molestada sexualmente pelo seu chefe. Na vida real, trata-se de uma obra escrita por mulheres, dirigida por uma mulher… e produzida por três homens e um mulher. Não deixa de ser irônico. Vemos nestes primeiros anos do século 21 um importante e muito bem-vindo movimento por aquilo que se convencionou chamar de “empoderamento” feminino; as vitórias têm sido importantes, mas fica claro que, estruturalmente, a predominância ainda está longe de sair das mãos masculinas (lembrando que, no cinema o produtor é o “dono” do filme).

Bastidores do poder à parte, “Não Mexa com Ela” traça um retrato vigoroso da posição feminina na sociedade contemporânea ao narrar a história de Orna (Liron Ben Shlush, otima), casada, mãe de três filhos, que consegue um bom emprego no ramo imobiliário para segurar a barra financeira da família, após um investimento não muito bem sucedido num negócio próprio. O trabalho em si exige muito do seu tempo e energia, o que é razoavelmente contornável. O grande problema surge quando o chefe Benny (Menashe Noy) passa a assediá-la, suscitando crises de culpa, confiança, segurança e identidade na protagonista e em seu marido.

O filme opta por uma estrutura direta, objetiva e linear, centralizando-se quase que totalmente nos dilemas de Orna,  obtendo assim resultados intensos e impactantes.

“Não Mexa com Ela” é dirigido com força e sobriedade por Michal Aviad, cineasta com sólida carreira como documentarista e que realiza aqui sua segunda ficção. O longa teve cinco indicações na premiação máxima do cinema israelense, incluindo a de melhor filme do ano.