NÃO PRECISA SER SANTISTA PARA CURTIR “SANTOS DE TODOS OS GOLS.

Por Celso Sabadin.

Sou corinthiano. E curto muito esta onda de documentários futebolísticos, independente de qual seja o time enfocado. Principalmente quando o filme é muito bem realizado e conduzido, como este “Santos de Todos os Gols”, roteirizado e dirigido pela – claro – santista fanática Lina Chamie.

O longa tem como gancho e ponto de partida o fato do Santos Futebol Clube ser, de acordo com Lina, o time que mais balançou as redes adversárias em toda a história do futebol mundial, contabilizando mais de 12.500 gols. Não fui checar tal informação. Mesmo porque não há motivos para isso: esse tipo de documentário é sempre movido a paixão e emoção, acertadamente deixando a razão de fora. Trata-se de futebol: nada mais passional, menos racional e – ao mesmo tempo – mais sério na vida de muita gente. A precisão ou não da informação numérica se torna irrelevante diante do coração.

O fato é que tomando o gol como pontapé inicial de seu roteiro,  “Santos de Todos os Gols” traça um painel histórico/emotivo/filosófico desta pequena palavra cuja origem britânica remete ao conceito de “objetivo”: o gol como busca incessante e final da sensação de gozo e realização deste mistério representativo da Humanidade chamado futebol. Tudo, obviamente, passando pelo prisma alvinegro praiano.

O filme abre espaço para a fala de jogadores, ex-jogadores, torcedores anônimos e famosos que discorrerão com emoção sobre os grandes gols – tanto os feitos como os perdidos – que fizeram alegrias e tristezas de torcedores santistas. Há preciosas imagens de arquivo mostrando a construção do estádio santista da Vila Belmiro, iluminados momentos e jogadas históricas do imbatível Santos de outrora, vários depoimentos que sintetizam a transcendente beleza do futebol, além de um magnífico trabalho de som que merece ser conferido em cinemas de grande qualidade de áudio. E gols, claro, muitos gols, “o grande momento do futebol”, como se intitulava um antigo programa esportivo.

Lina Chamie é fera nos assuntos cinema e Santos. Graduada e mestre em música e filosofia pela New York University, onde também trabalhou por mais de dez anos no departamento de cinema, Lina dirigiu os seguintes longas: “Tônica Dominante” (2001) que lhe rendeu, entre outros prêmios, o Kodak Vision Award/WIF, em Los Angeles, e o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA, em 2001; “A Via Láctea” (2007), estreia mundial no Festival de Cannes, Seleção Oficial da “Semana da Crítica”, Prêmio “Casa de América”, Madrid/Espanha, com participação em mais de 80 festivais pelo mundo recebeu inúmeros prêmios e reconhecimento da crítica nacional e internacional; “Santos 100 Anos de Futebol Arte” (2012), filme oficial do centenário do Santos F. C.; “São Silvestre” (2013), que recebeu o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA como Melhor Documentário em 2014; “Os Amigos” (2014), longa metragem ficção, premiado em Gramado e lançado em 2014; “Dorina – Olhar para o Mundo” (2016), longa metragem documentário para o HBO.

Só não gostei dos gols marcados contra o Corinthians. Tirando isso, é um excelente documentário.