“NAS ESTRADAS DO NEPAL” SEGUE A RECEITA DE SUCESSO IRANIANA.  

Por Celso Sabadin.
Nós, críticos de cinema, vivemos lamentando as fórmulas desgastadas e repetitivas que o cinema norte-americano desenvolve já há muitos anos, sempre em busca do sucesso comercial. Faz parte da profissão. Porém, muitas vezes nos esquecemos que não é apenas o cinemão comercial estadunidense que lança mão de tais formulações. Os europeus também conhecem muito bem estes caminhos pré-pavimentados que podem não levar aos grandes faturamentos, mas que apontam para as glórias das premiações em festivais internacionais. São receitas diferentes das norte-americanas, mas não deixam de ser receitas. Entre estes chamados “filmes para ganhar festival” encontra-se “Nas Estradas do Nepal”, que estreou no último dia 15 de dezembro no Rio de Janeiro e deverá alcançar mais salas pelo país a partir de 2017.

Coproduzido por França, Alemanha, Suíça e pelo próprio Nepal, o filme bebe na fonte de um tipo específico de cinema iraniano que fez muito sucesso no mundo inteiro nos anos 80 e 90. Siga a receita: pegue um roteiro envolvendo um mote bem simplista (no caso, uma galinha), coloque crianças nos papeis principais, adicione um punhado de atores não profissionais para criar um clima documental. Leve tudo para um país bem exótico que possa oferecer locações de grande beleza plástica aliadas a roupas e costumes que proporcionem alguma sensação de estudo antropológico. Tempere com planos longos (afinal sempre há importantes jurados franceses em festivais internacionais) e não se esqueça de adicionar um pano de fundo político, indispensável para conferir um ar intelectual ao filme. E voilá, está feito o “papa prêmios”.

O fato de “Nas Estradas do Nepal” passar esta sensação de receituário não o torna necessariamente um trabalho menor. Longe disso, acompanha-se com interesse a história do garoto que acredita ser possível economizar dinheiro com a venda dos ovos de sua única galinha, ao mesmo tempo em que sua irmã mais velha se engaja na luta maoista. Mas é inegável um sabor requentado, sem o frescor dos originais iranianos que claramente o inspiraram. Um prato satisfatório, mas que não chega a entusiasmar.