“NAVALNY” RETRATA O MIDIÁTICO OPOSITOR DE PUTIN.

Por Celso Sabadin.

Nos últimos anos, o “É Tudo Verdade” tornou-se o meu festival preferido de cinema no item “programação”. Desfilam diante dos nossos olhos documentários dos mais incríveis que formam um apaixonante mosaico mundial do que acontece – ou aconteceu – de mais fantástico no planeta.

Não deixa de ser fascinante, em plena era das fake news, um evento ter como nome, tema e proposta exibir o que é tudo verdade. Não vamos discorrer aqui sobre a veracidade ou não do gênero documental, discussão eterna dentro da História do Cinema desde que Dziga Vertov lançou seu manifesto Kino Pravda (Cinema Verdade), genial, mas que de verdade tinha muito pouco. A manipulação é a base do audiovisual.

Neste sentido, chama a atenção a estreia – neste festival – de “Navalny”, longa que documenta parte da trajetória de Alexei Navalny, advogado, blogueiro e político russo que ganhou repercussão mundial ao fazer forte oposição ao governo Putin e ser envenenado. O filme chega no auge da polarização Rússia/Ucrânia, potencializada pela guerra entre os dois países e pelos caminhos tortos através dos quais nos são apresentadas as notícias sobre o conflito. Afinal, como dizem, a primeira grande vítima de toda e qualquer guerra é a verdade.

Com direção de Daniel Roher, “Navalny” é ágil e vibrante, não raramente seguindo prioritariamente os caminhos narrativos do thriller que propriamente do documentário.  Contudo, trata-se de um filme para ser visto mais como ficção, posto que é uma produção norte-americana que tem a Rússia como tema e é realizada pelo canal de notícias CNN. Ou seja, tem a mesma credibilidade que teria –  digamos – um documentário sobre o golpe brasileiro de 2016 realizado pela Globo. Ou um documentário sobre o comunismo mundial realizado pelo Brasil Paralelo. Mas documentário não é jornalismo, e todas as viagens do gênero valem a pena.

Isto significa que é melhor não ver o filme? Pelo contrário! O longa proporciona um entusiasmante exercício de tentar filtrar o que pode ser verdade e o que pode ser encenação da CNN, dentro deste tema tão palpitante. Por exemplo, um agente treinado da espionagem russa se entregaria tão ingenuamente pelo telefone, como mostra o filme? Acho difícil. E em quais cenas Navalny, experiente e competente como blogueiro e comunicador, estaria sendo documentalmente sincero, e em quais cenas ele estaria ficcionalizando para as câmeras? Impossível precisar. O fato dele afirmar que não vê problema algum em fazer alianças com a extrema direita se o objetivo for derrubar Putin o desqualifica politicamente? Pra mim, sim; para outros, talvez não. E a trilha sonora bombando de forma exagerada praticamente o filme inteiro teria qual função dramatúrgica dentro da história? Por outro lado, é indiscutível o poder de Navalny em desestabilizar Putin profundamente, a ponto do governante russo – que não é nem um pouco fã da liberdade de expressão – colocá-lo na cadeia, onde permanece até hoje. Sinal que tem muito mais caroço debaixo deste angu (como se dizia na época em que existia a União Soviética) do que nós ou um documentário da CNN possamos sequer imaginar.

“Navalny” faz o que de melhor o cinema consegue fazer: provoca, instiga, utilizando para isso as boas ferramentas da produção audiovisual. Documental e ficcional.

A programação imperdível do É Tudo Verdade está em http://etudoverdade.com.br

 

 

 

 

 

 

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e do ´vUm documentário mais incrível que o outro

 

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Um “thriller” documental sobre como um dos líderes da oposição russa ao regime autoritário de Vladimir Putin sobreviveu a uma tentativa de assassinato por envenenamento em 2020, identificou os responsáveis pelo atentado e apesar de tudo retornou à Rússia para prosseguir em sua militância democrática.