NECESSÁRIO, “EU SOU MARIA” NÃO MENOSPREZA A ADOLESCÊNCIA.
Por Celso Sabadin.
“Eu Sou Maria”, o terceiro longa-metragem de Clara Linhart, pode não estar na lista dos melhores filmes brasileiros do ano (ah, as listas..!), mas conquistou todo o meu respeito e admiração graças a um “detalhe” muito importante: diferente de muitas produções de seu gênero, ele não menospreza a inteligência do público adolescente.
Nada de maniqueísmos superficiais, vilanizações unidimensionais, ou construções heroicas de protagonistas ilibados. “Eu Sou Maria”, carrega consigo e destila uma bem-vinda ingenuidade juvenil que só faz bem ao filme, eximindo-o de eventuais prepotências prejudiciais à sua credibilidade, potencializando assim a tão necessária – e difícil – identificação do público ao qual se destina.
O abismo sócio econômico brasileiro, a ignorância preconceituosa e estrutural das classes dominantes, os diferentes lugares de falas e de estares, além de outras armadilhas sociais do país desfilam na tela sem proselitismos, enquanto constroem seus personagens de maneira afetiva.
Nada é por acaso: a credibilidade das situações abordadas se apoia nos resultados da plataforma virtual “Almanaque da Rede”, criada pela produtora e roteirista Sonia Rodrigues, direcionada ao ensino de redação no ensino médio público do Rio de Janeiro.
A personagem-título, vivida por Nubia Maurício, é uma garota de 15 anos, nascida e criada na comunidade carioca de São Gonçalo, que toma contato com a elite ao vencer uma bolsa de estudos em um colégio da zona sul. Os conflitos serão inevitáveis.
Completam o elenco Clara Moneke, Daniel Dantas (que está a cara do pai, Nelson Dantas), Izabela Machado, João Victor, Drico Alves, Milena Melo, Duda Del Luca, Rafaela Alvittos, Ruan Aguiar, Samuel Scasciotti, Pedro Henrique Ferreira e Maju Alves, entre outros.
Eu Sou Maria” estreou nesta quinta-feira, 30/11, em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Paulista (PE) e Caxias do Sul.
Quem é a diretora Clara Linhart
Clara Linhart, diretora, assistente de direção e produtora de cinema formada em Ciências Sociais pela PUC-Rio e em Cinema Documentário pela FGV-Rio. Dirigiu e produziu os curta metragens Os Sapos (2011), Luna e Cinara (2012), Em Paz (2014). Em 2017, estreou o longa-metragem documental La Manuela, e em 2018, estreou no Festival de Veneza a ficção Domingo, codirigida por Fellipe Barbosa.